Matthew Rosser: Endometriose em homens?

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No artigo de hoje, mais uma vez, o A Endometriose e Eu traz mais informação exclusiva para seus leitores. Afinal, estamos aqui para informar sempre em primeira mão tudo que acontece no mundo em relação à endometriose.

Mas, endometriose em homens?

Sim, é possível e abordei o assunto pela primeira vez em 2011 no blog do blogspot.  Há relatos na literatura científica de homens diagnosticados após terapia com estrogênio para tratar câncer de próstata. 

Você deve se perguntar: “Mas os homens não menstruam?” A meu ver, a endometriose vai muito além da menstruação. Até o momento, cientificamente falando, já foi comprovado que as células de endometriose dos focos não são iguais às do endométrio do útero. 

Estes casos citados abaixo caem por terra muitas coisas sobre a endometriose, até mesmo a Teoria de Sampson, dando mais vida à Teoria Mulleriana, fundamentada pelo médico e cientista americano David Redwine, que nascemos com endometriose.

Segundo ele, a doença se dá pela má-formação dos dutos de Müller – tecidos que originam os órgãos reprodutores femininos – no desenvolvimento do feto ainda durante a fase embrionária.

Este texto de Matthew Rosser também desmistifica a doença e tira o rótulo de que a endometriose é a “doença da mulher moderna”, como já abordamos algumas vezes aqui. Realmente, a endometriose ainda é uma doença enigmática.

Como único blog do segmento no Brasil, o A Endometriose e Eu e seus colaboradores existem para trazer informações de qualidade e em primeira mão para cada vez mais desmistificar a endometriose. 

Vamos juntos espalhar uma nova conscientização da endometriose? Compartilhe nossos textos e ajude-nos a passar a correta conscientização da endometriose. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar 

Por Matthew Rosser
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar

Aí está algo que não assistimos todos os dias: endometrioses em homens?

Endometriose em um homem? Sim, é verdade, é uma ocorrência extremamente rara, mas são conhecidos alguns casos.

Esse relato bem detalhado chega-nos do Japão, sendo o sujeito um homem de 69 anos de idade que estava fazendo terapia de estrogênio havia 9 anos para tratar câncer de próstata.

Não foram registrados sintomas, mas foram descobertos vários cistos de endometriose medindo aproximadamente 5 x 3 cm no paratesticular esquerdo (a região logo acima do testículo).

Os autores do estudo afirmam que tal fato pode ter ocorrido devido ao que é conhecido por metapalasia endometriótica, ou hiperplasia estromal.

Basicamente, o que estes termos significam é que, sob a influência de níveis de estrogêneo elevados, o tecido normal sofreu uma mutação e é agora outro tecido de tipo diferente.

Esse relato não é o primeiro a observar endometriose em um homem. Nem sequer é o primeiro a relatar a ocorrência nessa região do corpo.

Para além desse caso, foram registrados apenas 6 casos de endometriose masculina em órgãos como a bexiga, a próstata e a parede abdominal inferior.

Contudo, se os observarmos em detalhe, a maioria tinha um ponto em comum: eles estavam fazendo terapia com estrogêneo de longa duração como tratamento para o câncer de próstata.

Isso é de grande importância, pois são casos pouco usuais da doença que nos podem dar pistas sobre como a doença surge na mulher.

Em um dos relatos de endometriose masculina o sujeito era um homem de 27 anos que parecia totalmente saudável, muito diferente dos outros que eram bastante mais velhos e com câncer de próstata.

Então isso não era apenas pouco usual, era extremamente raro. O que isso nos pode indicar sobre a doença no geral?

Os autores desse relato olharam para o início do desenvolvimento dos órgãos reprodutores. Ainda na fase embrionária existem diferentes estruturas que irão formar os sistemas reprodutores masculino e feminino.

Os órgãos femininos se desenvolvem a partir do canal mulleriano, que nos embriões masculinos retrocedem porque o embrião possui algo com um nome bem criativo chamado MIS (Substância Inibidora Mulleriana).

Os autores desse relato sugerem que a exposição a certas toxinas ambientais, tais como, dietilestilbestrol ou outros disruptores hormonais (nota da editora: como os xenoestrogênios que já falamos no blog) quando ainda na fase embrionária, poderá levar a uma produção anômala de MIS, que por sua vez, impedirá o retrocesso correto do canal mulleriano, deixando pequenos traços de tecido para trás que, através do estímulo certo, poderão se desenvolver em algo semelhante ao tecido endométrico, e que surgiria como endometriose.

Poderia algo similar explicar a endometriose nas mulheres?

Bom, poderia ser se isso ligasse com a teoria do resto mulleriano. Essa teoria afirma que durante o desenvolvimento normal do feto, pequenas partes do canal mulleriano, talvez apenas algumas células, ficam deslocadas e depositadas em outros órgãos.

Uma vez lá, esses depósitos que ficaram deslocados se mantêm em estado inerte até que sejam estimulados a se transformarem em tecido endometrial em uma fase posterior da vida.

Exatamente quais são esses estímulos, ou porque algumas mulheres exibem esse deslocamento são mistérios ainda por resolver, mas responder a essas questões poderá vir a ser um momento crucial na história da endometriose.

Comentário do Tradutor: Esse é mais um dos exemplos de que algo está errado com a expressão “doença da mulher moderna”. Mas também levanta outras preocupações acerca de tratamentos que podem trazer efeitos secundários.

Embora sejam apresentadas teorias que não foram ainda comprovadas, os fatos estão lá. Homens com endometriose.

Tem muito sobre essa doença que ainda precisa ser descoberto, e o apelo para a comunidade médica é que não durma no ponto nem se mantenha firme em teorias que comprovadamente estão erradas apenas porque não se conhece a certa.

É necessário ir à luta, arriscar, fazer papel de bobo por vezes, mas tentar encontrar o caminho certo. Alguns médicos que tomamos conhecimento aqui tiveram as suas vidas tocadas pelo flagelo da endometriose.

No caso do doutor David Redwine, ele ficou revoltado pela falta de preparação dos seus colegas para lidarem com a endometriose. Por décadas ele investigou a doença para ajudar sua primeira esposa que era portadora, tomando assim a responsabilidade em suas mãos.  

Matthew Rosser também começou a estudar a endometriose, por conta de sua esposa, como já foi abordado no blog. Um verdadeiro trabalho de amor.

Nem todos poderemos ser médicos ou cientistas, mas temos a obrigação de manter uma mente aberta e raciocinar quando nos apresentam uma ideia. Por mais espalhada que esteja uma teoria, isso não faz com que ela esteja certa.

Incrível como o método científico é tão usado em tanta coisa e, no caso da endometriose, parece ter sido deixado de lado por tanta gente.

Fonte imagem: Free Digital Photos

Texto publicado no blogspot em 15 de dezembro de 2013