A Vida de um EndoMarido: endometriose, dispareunia e relação sexual!

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Como o sexo ainda é ‘tabu’ em nossa sociedade, tudo que se refere ao assunto ainda é considerado ‘proibido’ ou algo vergonhoso de ser falado, e precisamos desmistificar o tema, pois a dispareunia é um sintoma de muitas endomulheres.

Como o A Endometriose e Eu foi o pioneiro em falar sobre a dispareunia, suas consequências e tratamento, sempre foi um desejo meu ter um texto escrito por um endomarido sobre o tema, para explicar que a dor no sexo não é “frescura” e nem “falta de tesão”, e que é possível fazer sexo sem ‘penetração’.

Em 2013 conheci o Paulo e a Ane e fiquei impressionada da forma leve e descomplicada que eles falam sobre o assunto. No mesmo momento convidei-o para escrever um texto sobre endometriose e relação sexual.

Tenho certeza que esse texto irá ajudar muitos companheiros de portadoras de endometriose e até mesmo de outras doenças que, de uma forma ou de outra, possam estar incapacitadas de ter relação sexual da forma mais convencional.

É preciso lembrar que muitas endomulheres além da dor durante o sexo também têm dor após a relação. A dispareunia tem tratamento e cura. Leia o texto: “As disfunções osteomusculares – a dispareunia e seus tratamentos”.

Compartilhe mais um texto exclusivo do blog e ajude às pessoas a entenderem melhor sobre a dor no sexo. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

A Vida de um EndoMarido: endometriose, dispareunia e relação sexual!

Por Paulo Soares
Edição: Caroline Salazar

Olá, meu nome é Paulo, sou endomarido desde 2009. Em 2013 quando escrevi esse texto para o A Endometriose e Eu no blogspot, eu morava cidade de Camaçari, Bahia, e minha esposa Ane já estava há alguns meses em São Paulo fazendo o tratamento para endometriose e aguardando a cirurgia.

Vou falar sobre meu relato e vivência com a endometriose enquanto endomarido. Quando conheci Ane, eu a escolhi para amar. A partir daí, coloquei no meu coração que deveria amá-la sempre, independente das circunstâncias.

Se nós homens não colocarmos em primeiro lugar esse princípio, dificilmente suportaria ser um endomarido, e sem se esquecer do voto que fizemos no altar, diante de Deus, que sempre ficaríamos juntos na saúde ou na doença.

Estou aqui para falar de um dos problemas que afetam os casais que enfrentam a endometriose: a dispareunia, um sintoma que muitas endomulheres têm e que ainda são poucas compreendidas.

Além da dor no sexo, como a endometriose causa dor na região pélvica, a mulher fica muito indisposta para praticar a relação, então, a frequência do ato sexual diminui consideravelmente.

Escrevendo este artigo, lembrei-me de um amigo que está acompanhando nossa luta e ele foi muito sincero ao dizer que “se fosse com ele já tinha largado a mulher!”

Muitos de nós homens colocamos em primeiro lugar o ato sexual no casamento, e isso gera problema sério nos casais que estão passando pela endometriose.

Lendo o blog, vi testemunhos de mulheres que foram abandonadas por seus companheiros e um dos motivos é justamente por conta da baixa frequência da relação sexual.  

Eu acho isso uma pena, porque entendo que o ato sexual é importante no relacionamento, mas não é fundamental, não é a base de nenhuma relação. Acredito que não começamos um relacionamento pelo sexo (isso é ilusão hollywoodiana).

No meu caso, descobrimos que a endometriose de minha esposa estava grave e seus sintomas ficavam cada mais fortes, sempre antes, durante e depois do período menstrual, ou seja, de 30 dias no mês, ela passava quase 15 muito mal.

E durante este período era impossível termos relação. E isso acontecia todos os meses. Como ela poderia ter prazer se sentia dores? A relação sexual é para satisfazer o casal, não apenas o homem.

Confesso que no começo não foi fácil aceitar essa situação, pois como nosso principal hormônio é a testosterona, é muito forte a necessidade do homem de satisfazer esse desejo do ato sexual.

Mas conversando com minha esposa, ela também afirmou que estava sofrendo com essa situação, justamente por ela não me satisfazer sexualmente, mas também porque ela tinha esse desejo da mesma forma.

Sim, as mulheres também têm desejo de ter uma relação sexual com seu parceiro. E não só o homem. Outro motivo que fazia minha esposa sofrer era o fato de querer chegar ao orgasmo e não conseguir por causa da dor, da falta de libido e dos remédios que tomava.

E, se eu não tivesse colocado o princípio de que eu escolhi amar minha esposa em qualquer situação, eu não sei o que seria do nosso casamento. Graças a Deus, não foi eu que coloquei esse princípio, mas Deus.

Foi Ele que nos uniu, e nada e ninguém vai nos separar. Diante disso, buscamos minimizar o problema, pois a grande questão era a relação sexual com penetração, que causava muita dor nela.

Então, diminuímos a frequência da relação e quando era com penetração fazíamos com cuidado para não causar dor e, de vez quando, fazíamos o ato sexual manualmente satisfazendo um ao outro, pois acredito que não somente eu tenho que sentir prazer, mas ela também.

No início de 2014, minha esposa fez a primeira cirurgia por videolaparoscopia para retirar os focos de endometriose no Hospital São Paulo. Três meses após a sua recuperação, voltamos a ter relação sexual com penetração.

Porém, em janeiro de 2015, ela retornou a sentir dor na relação. Minha esposa e eu desanimamos muito, não acreditávamos que estava acontecendo tudo aquilo de novo.

Nesse ano, já estava trabalhando em uma empresa que tinha convênio médico e pensando que seria fácil encontrar ginecologista especialista endometriose, mas não.

Minha esposa continuou sendo atendida no Hospital São Paulo, com tratamentos de infiltração de anestésico no cólon do útero e ânus, fisioterapia uroginecológica e inseriu o DIU Mirena, que minimizavam as dores.

Entre 2015 a 2017, a relação sexual voltou a ficar comprometida, voltando ao estágio anterior.

Somente em outubro de 2017 encontramos um especialista, que reiniciou todo o tratamento e, nos novos exames, foi diagnosticado além de que a endometriose no intestino não tinha sido retirada em sua totalidade na cirurgia anterior, também adenomiose no útero.

A segunda cirurgia foi realizada no final de janeiro de 2018. Além da retirada dos focos de endometriose, foi necessário realizar a histerectomia total com retirada do útero e trompas.

A partir daqui, depois de todo o período de resguardo, reiniciamos nossa vida de casal com relações sexuais mais prazerosas e sem nenhuma preocupação.

Vocês devem ter ficado com uma dúvida, e os tão sonhados filhos? Desde 2016 nosso filho gestado no coração vive conosco, mas essa história está em outro texto sobre filhos e adoção.

Para finalizar gostaria de afirmar, mais uma vez, que o princípio é o amor, é ele que une os casais, e não o sexo. E, espero que com este texto, outros endomaridos encontrem força para lutar pelo seu casamento e vencer a endometriose.

Não deixem que essa doença acabe com seu casamento. E como diz a Bíblia: “Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor.” (I Coríntios 13,13). Grande abraço, Paulo.

Imagem: Deposit Photos/ Caroline Salazar

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