No dia 22 de novembro de 2017 perdemos para endometriose uma endoirmã muito guerreira, Dalvanir Avelino, de Natal, no Rio Grande do Norte, que morreu subitamente quando fazia xixi no banheiro do hospital, onde estava à espera de sua terceira cirurgia.
Quando eu soube da notícia, minha única pergunta era: “e se ela tivesse feito a cirurgia correta na primeira ou na segunda vez. Será que ela teria morrido?”.
Imediatamente contactei o marido de Dal, como era carinhosamente chamada, para saber do ocorrido. Convidei-o para falar da trajetória de sua esposa, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, durante seus 41 anos de vida.
Sua partida precoce foi menos de um mês de seu aniversário. Faleceu pouco antes de completar 42. Neste dia 15 de dezembro de 2018, completaria 43 anos. Não deu tempo. A endometriose a levou. A história de Dal é muito emocionante (leia aqui a homenagem a Dalvanir) e comprova que nossa determinação é que comanda nossa vida. Dal não será esquecida!
E ainda hoje escutamos que a “endometriose não mata”. Mas eu sempre falei o contrário: como qualquer doença, ela pode matar sim. E em março pedi outra homenagem ao Vlademir, pois nós não podemos deixar que Dal, a Suellen, e tantas outras endomulheres que perderem suas vidas para endometriose sejam esquecidas.
Leia aqui o emocionante tributo que Vlademir fez a Dal. E, claro, convidei-o de novo para falar sobre o primeiro ano sem a esposa e fazer uma homenagem pelo seu aniversário. Beijo carinhoso! Caroline Salazar
Por Vlademir Alexandre
Edição: Caroline Salazar
Há pessoas que não só passam, há monumentos da existência. Que a vida nos transfere o dever de assentar seus pilares. A cada totem elevado em sua presença infinda haveremos de expandir o bem de seu significado existencial.
Cada herdar faz sucumbir à obviedade do tempo a imensurável medida da força plantada. Seguir já não haverá de ser sem que estejamos no mesmo chão mesmo que as pegadas sejam de um aparentemente só.
O tempo essa invencionice regular aposta na linearidade da vida. Os esquemas, os arranjos e as tabelas organizam e servem ao desenvolvimento humano.
Mas paralelo a nossas formas de se estabelecer socialmente, carregamos a incongruência na ordem dos sentimentos, e é nesse campo que a saudade se estabelece.
Fora da caixa esquematizada pela vida burocratizada da contemporaneidade as memórias de vivências e relações, insistem em nos apontar as dimensões mais humanas de nossa existência: o amor.
Muitas vezes, posto a prova, como se fosse possível lançar a nobreza desse sentimento a uma espécie de arcabouço jurídico de bem querer.
O mais determinável sobre o amor é sua identidade humana, sua forma indeterminável de se manifestar e a potência a que ocupa parte fundante de cada ser humano e de sua caminhada.
Sabendo assim, entendendo-se assim e por este princípio que convido a embarcar no que rege esse desejo transcendente a vida de homenagear, não mais uma vez, mas no constante pulso de gratidão que minha vida manifesta indissolúvel de união.
Dalvanir Avelino não foi mais uma mulher a ser vitimada pela endometriose, foi única e assim se manterá por não haver lugar a número ou ordem na extrema humanidade de seu significado e no amor que nos liga.
No último ano, envolver-se nesse clamor por assistência, desenvolvimento científico e políticas públicas voltadas à saúde da mulher, não só compõe a mesma luta que dediquei a um desejo relutante de não perder a companhia daquela que deu alegria, harmonia e cumplicidade de verdadeiros companheiros por 17 anos de nossas vidas.
Como de entender que a vida não se basta ao mundo material, que devemos pela mesma gratidão que move a nossa felicidade, tentar estendê-la a nossos pares, essa é a premissa humanitária, essa a forma de manter o espírito solidário, companheiro, amoroso e responsável de Dalvanir vivo entre nós.
Não posso e não podemos baixar a cabeça. Não devemos soltar as mãos uns dos outros e umas das outras, nossa corrente é a esperança de dias melhores e nosso envolvimento solidário é a garantia de efetividade de justiça social e, consequentemente, a ampliação nas possibilidades de que tragédias como a que vivi, sejam combatidas de frente e reduzidas ou desaparecidas na história da saúde feminina.
A endometriose é uma doença silenciosa e silencia suas portadoras pela dor, e por uma vergonha de viver uma doença incompreendida, discriminada e relativizada constantemente.
E é por isso que eu homem e as famílias dessas mulheres devem levantar a voz, gritar por elas e gritar com elas.
No último dia 22 de novembro sinto sua passagem que se encerrou há um ano no plano terrestre. Já neste dia 15 de dezembro, a cronologia argumento dos vivos, mais uma vez, conforma uma conjunção espiritual de planos e afetos únicos.
Os aniversários de nascimento de minha querida mãe e meu apoio, de minha avó que também acompanha o estado celeste de emancipação, e, unidas a Dal, me entregam o mistério da satisfação de tê-las em minha vida, onde sou fruto e humilde parceiro de seus dias.
Seus nascimentos propõem os marcos temporais como lugar que me dizem de um ano sem a inestimável presença de uma companheira inesquecível, mas também, lembra a luta que não termina enquanto um dos que acreditam na humanidade, estiver erguido pela manhã.
Até que tudo cesse, não cessaremos. #DalvanirPresente
Fotos: Arquivo pessoal/ Vlademir Alexandre
1 comentário
Hoje sei o que significa amar !!!! Minha esposa tem a endometriose e aconteça o que acontecer estarei lutando ao lado da mulher que amo !!!! Estarei junto com a mulher de minha vida lutando jamais desistirei de minha esposa e de fazer ela feliz não é fácil mas o amor vence qualquer dificuldade.