Há alguns anos, o blog A Endometriose e Eu vem chamando atenção sobre a importância da prevenção do suicídio entre as portadoras de endometriose no Setembro Amarelo. O mês foi escolhido, pois dia 10 é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
Segundo o Ministério da Saúde todos os dias 32 brasileiros tiram suas vidas, totalizando cerca de 11 mil pessoas por ano, um aumento de 12% entre 2011 a 2015. A taxa alarmante é maior que os óbitos por AIDS e vários tipos de câncer.
No mundo todo cerca de 800 mil ceifam suas vidas anualmente. Em relação às tentativas, as mulheres são a maioria com 69%, sendo que 31,1% tentaram mais de uma vez.
Assim como muitas doenças que levam à dor crônica, a endometriose também entra para a estatística de doenças que dão um empurrãozinho ao suicídio. Claro que isso depende também de outros fatores.
E é justamente para falar sobre este tema, ainda tão delicado e cheio de tabu, especialmente no Brasil, quando relacionamos a endometriose ao suicídio com poucos artigos publicados em português, convidei a psicóloga Lívia Burin, que por ter tido endometriose, sabe muito bem como é lidar com a doença.
Se você conhece alguma pessoa que está deprimida, especialmente se ela for uma endomulher, não a julgue, mas ajude-a. Seu ato de amor poderá salvar uma vida. Depressão não é frescura, é uma doença séria!
Compartilhe mais um texto exclusivo do blog e ajude-nos a salvar vidas femininas da dor. Beijo carinhoso! Caroline Salazar
Setembro Amarelo – Mês de Conscientização e Prevenção do Suicídio!
Por Lívia Burin
Edição: Caroline Salazar
Neste mês é realizada a campanha “Setembro Amarelo”, cujo objetivo é ampliar a conscientização sobre a prevenção ao suicídio.
Crescem a cada ano os índices de suicídio, o que inevitavelmente amplia a discussão sobre prevenção.
O tema ainda é tratado como tabu por muitos, e há um mito de que falar a respeito incentiva a prática, quando na realidade é o contrário: quanto maior a conscientização e o diálogo, mais chances de fortalecer redes de apoio e intervir o quanto antes.
De acordo com o Instituto Vita Alere, no Brasil acontecem em média mais de um suicídio por hora (contabilizando 26 suicídios por dia, num total de mais de 9 mil pessoas por ano).
O suicídio é um fenômeno multifatorial, ou seja, não é possível reduzi-lo a uma única causa.
A maioria dos sobreviventes refere que o suicídio foi um recurso encontrado para interromper um sofrimento intenso.
Alguns fatores de risco:
– Transtornos psiquiátricos, como transtornos do humor (a depressão e a ansiedade), transtornos de personalidade, esquizofrenia;
– Isolamento social;
– Dinâmica familiar complicada;
– Uso abusivo de substâncias psicoativas (como o álcool e outras drogas);
– Luto;
– Histórico anterior de tentativas;
– Dores crônicas e doenças incapacitantes.
E o que isso tem a ver com a endometriose?
Muitos casos acarretam prejuízo significativo da qualidade de vida, especialmente quando apresentam fatores como: dor crônica, infertilidade, falta de suporte social e afetivo, além do próprio atraso no diagnóstico e da possibilidade de recorrência da doença.
Estudos já constataram que há maior prevalência de depressão e ansiedade nas portadoras que tem dores crônicas. Isto não significa de forma alguma que toda a portadora de endometriose vá desenvolver um quadro depressivo ou ansioso.
Mas quando há combinação de vários destes fatores de risco, somadas a uma predisposição para depressão (como no caso de portadoras que já tiveram episódios depressivos no passado ou tem histórico de transtornos psiquiátricos na família), há sim maior probabilidade em desenvolver um quadro depressivo/ansioso.
O cuidado à saúde mental das endomulheres é fundamental para uma boa resposta ao tratamento da endometriose. Os profissionais precisam conhecer a história de cada mulher, informar a família e o parceiro sobre a doença.
E também precisam se atentar para os impactos da doença na qualidade de vida de cada uma, bem como sinais de alerta, como: desânimo constante, aumento ou diminuição do sono, choro e crises de ansiedade frequentes, alterações bruscas de humor, entre outros sintomas.
O acompanhamento psicológico pode auxiliar a portadora a lidar melhor com o diagnóstico, e a se fortalecer e criar estratégias de enfrentamento para lidar com o tratamento e manejo da dor.
O CVV (Centro de Valorização da Vida) recebe ligações gratuitamente no número 188. É um serviço disponível em todo o território nacional, comprometido em acolher as pessoas com qualquer tipo de sofrimento psíquico.
Para mais informações sobre o tema, recomendo também o site do Instituto Vita Alere, que disponibiliza material ético e de qualidade sobre prevenção e posvenção. Acessem: https://vitaalere.com.br/
Busquem apoio sempre, e caso conheçam alguém que esteja passando por um momento difícil, não julguem, porque realmente não é “frescura”, e este é um preconceito que precisa acabar.
Cuidar da saúde mental é cuidar da vida!
Sobre a psicóloga Lívia Burin Martinelli:
Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) aprimorou-se em Psicossomática e Psico-Oncologia. Especialista em Teoria do Apego (Dinâmicas Vinculares). Atua em saúde pública e em consultório particular. Conheça mais sobre o trabalho da psicóloga em sua fanpage ou no @psi.liviaburin.