Sororidade e Endometriose: EndoMulheres unidas, jamais serão vencidas!

Por Caroline Salazar
Edição: Nathália Veras

No meu artigo autoral do mês de julho vou falar sobre algo muito importante e que há muito tempo quero conversar com vocês: a sororidade. E a sororidade na endometriose. 

Imagino que muitas pessoas não conseguem mais nem escutar essa palavra, de tanto que a escutamos nos últimos anos, principalmente, em 2016 e em 2017, mas infelizmente a maioria das pessoas ainda não sabe seu significado, especialmente as mulheres.

Sim, as mulheres! E olha que o significado de sororidade é irmandade, solidariedade entre as mulheres”. Irmandade como a própria palavra fala, quer dizer apoio, união, ser companheira, estender a mão, completamente contrário do que até então foi ensinado pela sociedade: a competição, a disputada acirrada entre a mulherada.

Há 8 anos luto para que as endomulheres brasileiras tenham tratamento correto, digno e humano. Comecei a lutar quando ainda estava mal, muito mal. Como vocês já sabem, cheguei a ficar de cama.

Sofri com as dores severas da endometriose durante 21 anos – 18 sem diagnóstico – e, de repente, logo na minha segunda cirurgia fiquei curada (leia meu depoimento dos 6 anos de minha cura), e mesmo assim continuo na mesma luta.

Curiosamente nunca gastei nenhum real com meu tratamento. Comecei num ambulatório-escola pelo SUS, mas todos os meus exames e minhas duas cirurgias (na época meu especialista atendia convênios num hospital) foram realizados pelo convênio, um bom convênio, diga-se de passagem.

A minha cura, bem como a de milhares de mulheres mundo afora – mesmo numa sociedade que ainda não aceita esse fato concreto –, foi a resposta que eu precisava de Deus para me manter na luta.

Imagino que muitas mulheres se tivessem no meu lugar, provavelmente teriam desistido da luta e voltariam a viver suas vidas, principalmente após a maternidade.

Mas eu mantive a sororidade, em prol do sonho que todas as endomulheres tenham a mesma chance que eu. Oportunidade de tratamento e oportunidade de estudo também!

Conhecer o doutor David Redwine e ouvir dele que a endometriose tem solução, tem cura em muitos casos, talvez não em todos, mas em muito deles, dias antes da cirurgia que me curou, fez eu ter ainda mais fé e depois, já curada, manter-me ainda mais firme na luta pelo reconhecimento da endometriose como doença social e por políticas públicas efetivas pelo SUS.

Foi como se Deus me dissesse: “Siga em frente, filha, você está no caminho certo”.

Na época não existia o fervor da palavra sororidade, essa não era a palavra mais digitada do google, e muito menos a mais falada pelas pessoas, mas foi a palavra mágica que me fez seguir em frente.

E é essa palavra que quero trazer hoje para você refletir: “você pratica a sororidade?”

Se não, o que falta para você se unir a mulheres que pensa e que tem um ideal de luta para você ou a qual você se encaixa?

Precisamos praticar mais sororidade. Precisamos respeitar mais as mulheres, principalmente as outras mulheres, precisamos saber escutá-las mais e dar voz a elas sem julgamentos, precisamos ser mais gentis com a outra.

Mesmo sendo a palavra mais pesquisada na internet nos últimos anos falta sororidade. E isso é perceptível nos grupos…

São louváveis os grupos onde há mulheres-líderes natas, que não têm medo de se unir a outra, mesmo quando essa causa não é sua. Mas o que dizer daquela que fala mal da outra ou bane ou exclui alguém do grupo só porque ela arregaçou as mangas em sua própria luta?

Falta sororidade, falta união, falta empatia, falta amor, falta amizade, falta se colocar no lugar da outra e se perguntar: “E se essa ofensa, se esse xingamento fosse para mim, como eu me sentiria?”

Os grupos de endomulheres são muito importantes para compartilhar informações, desabafar… No entanto, ainda falta respeito por quem pensa diferente. Se falta isso, somos ainda mais carentes de união para lutar por nós e pelas outras endomulheres.

É preciso praticar mais sororidade na endometriose. Até mesmo a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, a mais jovem a ganhar um Nobel da Paz, em 2014, diz: “Minha voz é apenas uma voz”.

Ou seja, nenhuma voz tem o mesmo efeito sozinha, assim como nenhuma andorinha faz verão sozinha.

O slogan que uso há anos no A Endometriose e Eu já fala de sororidade antes mesmo de a palavra ficar em voga: “A união faz a força e juntas somos mais fortes”.

Te convido com este texto a refletir sobre a sororidade entre suas endoirmãs. O que te impede de lutar por você mesma, de lutar por seus direitos que já deveriam ser seus garantidos por lei? Leia meu texto: Por que precisamos lutar por políticas públicas para as endomulheres brasileiras?

Todo ano, desde 2014, nós temos um dia mundial de luta: a EndoMarcha. A caminhada mundial é sempre no último sábado do mês de março, mês de conscientização da endometriose, e eu sou a capitã brasileira. Participe da EndoMarcha 2019! Acesse também a fanpage da EndoMarcha Time Brasil.

Vamos praticar e espalhar mais sororidade entre nossas endoirmãs? O que te impede de fazer isso? Eu optei não só pela sororidade, mas pelo amor ao próximo, pois no final ele sempre vencerá. Quem vem comigo? Beijo carinhoso!

Fonte imagem: Deposit Photos/ Caroline Salazar