Apesar de mais difundida nos últimos dois anos, ainda precisamos falar em endometriose, e precisamos falar muito, especialmente, sobre seus sintomas.
Sei que muitas mulheres têm vergonha de falar que têm a doença, mas não podemos esconder a doença, pois é de acordo com os principais sintomas que outra mulher poderá descobrir se tem ou não a doença.
Então, quanto mais você mencionar a palavra endometriose, mais haverá o interesse das pessoas em saber o que é, e, consequentemente, poderemos ter o diagnóstico precoce da doença. Não é porque você sofreu que as outras precisam sofrer também.
Para lhe incentivar a espalhar mais sobre endometriose e seus sintomas, a advogada Nathalia Veras, coordenadora da EndoMarcha Boa Vista escreveu um texto especial sobre o tema contando como foi que ela começou a espalhar a palavra “endometriose”.
Espero que após a leitura cada portadora reflita sobre qual está sendo sua ação para ampliar a conscientização da endometriose, seja ela na sua cidade, no seu bairro, na sua escola, na sua faculdade, no seu templo religioso.
Como está sua ação? Beijo carinhoso! Caroline Salazar
Por Nathalia Veras
Edição: Caroline Salazar
Não se esconda: Precisamos falar de endometriose!
Não é fácil ser portadora de endometriose. Por mais incrível que pareça, é uma doença cheia de preconceito e estigmas contra as portadoras.
Somos taxadas de fracas, frescas, preguiçosas, entre outros adjetivos. E nem dá para culpar as pessoas, pois a crença de que cólica menstrual é normal é espalhada até no meio médico.
Lembro de uma vez, eu estava no Ensino Fundamental, acho que na 6ª série, uma colega de escola falou que não conseguia acreditar que uma coisa normal (menstruação) doía tanto.
Eu respondi que “tudo bem, se não fosse em mim eu também não acreditaria”. Na época, eu estava longe de ter o diagnóstico.
Após um ano da minha primeira cirurgia em 2013, voltei a sentir dores que foram ficando cada vez piores. No fim, eu saia do trabalho, ia para casa e só levantava da cama no outro dia (tirando para ir rapidamente ao banheiro e comer).
Mas ninguém, nem mesmo as pessoas mais próximas acreditavam na dor que eu sentia e eu nem falava mais. Só acreditaram quando a doença apareceu (por um milagre e competência do radiologista) na ressonância magnética.
Após a segunda cirurgia em 2016, precisei ficar 30 dias de repouso. Foi uma recuperação tranquila, mas eu tinha sido muito mexida por dentro.
E, acreditem, ouvi que eu era mole, que não precisava de repouso, que as mulheres dão à luz e precisam cuidar dos filhos e eu não tinha nem dado a luz, então não precisava de repouso.
A ignorância machuca, mesmo que não se culpe o outro pelo desconhecimento.
Após começar a divulgar a doença e seus sintomas, e a passar a integrar o time de coordenadores da EndoMarcha Time Brasil em 2016, consegui sensibilizar as pessoas mais próximas.
Mas, ainda hoje, após a segunda cirurgia (e infelizmente ainda não alcancei a cura), escuto que eu não deveria falar da doença, que isso é uma conduta negativa, que atrai a doença ou que ninguém vai querer casar comigo porque “não posso ter filhos”.
O problema é que eu já perdi as contas de quantas meninas e mulheres já me ouviram falar sobre a endometriose e conseguiram diagnóstico. Para mim, guardar a informação para si é egoísmo e isso sim é negativo.
Por mais que alguém creia em energia, em castigo divino, em lei da ação e da reação ou qualquer outro termo que se queira chamar, ninguém deve falar para uma pessoa que ela atraiu determinada doença.
Por que as portadoras de endometriose precisam ouvir isso?
Lembro que quando o ator americano Robin Williams, conhecido pelas suas atuações em comédia, se suicidou, iniciou-se uma campanha sobre a importância de falar sobre depressão e outras doenças psiquiátricas, ainda tão cheias de estereótipos.
Não é à toa que, ano passado, a Organização Mundial da Saúde escolheu a depressão como foco do Dia Mundial da Saúde, colocando o lema “Vamos conversar?”.
Não é só a depressão, não é só a endometriose!
Várias são as doenças “proibidas”, que são tabus. E enquanto isso, sem informação, as pessoas continuam morrendo e sofrendo.
Vivemos em um mundo que ter problema é proibido e as pessoas viram escravas do padrão de felicidade imposto pela sociedade.
No caso da endometriose, além das dores crônicas, que afetam grande parte das portadoras, é preciso ainda lidar com a falta de diagnóstico, incompreensão e preconceito.
Isso resulta que muitas pacientes de endometriose adquirem depressão, ansiedade, fibromialgia, havendo até casos de suicídio.
Ter endometriose não é fracasso, não é preguiça e não é motivo de vergonha. Precisamos falar da doença porque só assim iremos levar ajuda às EndoMulheres e combater o preconceito e os estereótipos.
Só assim vamos conseguir levar a mensagem que endometriose não é normal, é uma doença e deve ter o tratamento adequado.
Convido vocês a quebrarem tabus e falar da endometriose.
Surpreendam-se com quantas portadoras vocês irão encontrar com diagnóstico e sem diagnóstico.
Vale usar ainda as hashtags #1em10 e #1in10, da Campanha #1em10 que o blog A Endometriose e Eu criou especialmente para a EndoMarcha 2018.
Somos muitas, somos fortes e o mundo precisa saber disso! Nossa união com certeza fará a diferença! Beijo carinhoso!
Sobre a autora:
Portadora de endometriose, coordenadora da EndoMarcha Boa Vista, advogada, analista na Defensoria Pública da União, professora na Universidade Estadual de Roraima (UERR), doutoranda em Direito na Universidade Estácio de Sá, assessora técnica na Federação de Bandeirantes do Brasil.
Imagem: Deposit Photos/ Caroline Salazar