A importância de uma boa recuperação laparoscópica!

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Por Caroline Salazar
Edição: doutor Alysson Zanatta

Em 2013, escrevi um texto no blogspot sobre a importância de uma “boa recuperação” pós-laparoscopia, pois sempre vejo nos grupos adolescentes e mulheres realizando tarefas incompatíveis com quem acabou de se submeter a uma cirurgia.

O sucesso deste texto é tanto – é o 3º mais lido do blog com mais de 50 mil visualizações -, que resolvi reescreve-lo, 6 anos depois, até com mais informações para que ele continue auxiliando as portadoras.  

Meu objetivo é alertar às endomulheres sobre a importância do repouso e da desacelerada após a cirurgia. Meu primeiro conselho é: sempre siga a recomendação pós-cirúrgica do seu médico.

Como a laparoscopia é uma cirurgia minimamente invasiva – o cirurgião faz 4 orifícios na barriga (1 no umbigo e 3 na baixa pelve) – e não há corte como na cesárea, as pessoas acham que não precisam fazer repouso e que podem fazer de tudo e mais um pouco.

Eu falo isso com propriedade, pois na minha primeira laparoscopia em 2010, eu fui uma dessas pessoas que achava que poderia continuar fazendo tudo como antes da cirurgia.

No total eu já fiz 5 cirurgias, 3 abertas (apêndice aos 13 anos, cisto hemorrágico de ovário aos 15 e meu parto cesárea aos 37 anos) e duas laparoscopias.

Sei que a recuperação das cirurgias por vídeo é bem melhor, mas é preciso lembrar que por dentro também há cicatrizes, muito maiores que as externas, e que também precisam sarar.

Na minha primeira laparoscopia em 2010, eu ainda não sabia da importância da recuperação e pensava como a maioria das mulheres pensa: “Mas são apenas 4 furinhos para que repouso?” Confesso que não fiz as duas semanas de repouso recomendadas pelo meu médico.

Na época, como estava desempregada, eu era a responsável pela limpeza de casa. Era um apartamento antigo e grande, com janelões, jardim de inverno todo de vidro, sacada… toda sexta-feira era dia da faxina.

Apesar de não ter saído curada da minha primeira cirurgia, eu fiquei muito bem. Como eu estava com minha pelve congelada e todos os meus órgãos pélvicos e abdominais estavam fora do lugar, eu fui toda retaliada por dentro, então tive dor leve a média nos primeiros dias.

Mesmo assim fiquei bem, com dor, mas bem menos que antes da cirurgia. Tomei analgésicos apenas nos primeiros dias e mesmo assim mais fracos do que os que eu tomava antes.

Por isso, confesso que não entendo quando leio nos grupos mulheres que acabaram de sair da cirurgia e ficam pior do que entraram. Mas isso é assunto para outro post.

Mesmo sabendo que não foi possível retirar todos os focos e aderências, senti pouca dor, já não doía mais para respirar. Antes, eu tinha tanta dor que até para andar e respirar doía. E olha que não tinha endo no diafragma.

Na época, eu era iniciante no tema endometriose. Eu não sabia que o repouso não é pelo corte, mas sim pelo procedimento realizado. A cirurgia de endometriose é muito complexa quando realizada a excisão cirúrgica.

E eu fui muito mexida por dentro porque estava com minha pelve congelada. Apesar da dor, eu não fiz os cuidados exigidos. Menos de 10 dias após o procedimento lá estava eu com uma vassoura e rodo nas mãos já limpando a casa e carregando balde de água pesado para lavar a sacada. Ou seja, tudo errado! Hoje eu vejo como fui imprudente comigo mesma.

Eu só não cozinhava. Mas eu vejo muitas no grupo já com a barriga no fogão dias após a cirurgia. Você tem noção dos malefícios que a quentura do fogo pode fazer com sua barriga? As aderências e consequências que esta atitude pode lhe dar para o resto da vida?

Em 2010, eu não sabia que a formação das aderências já começa na própria cicatrização. Então, nesta época eu já comecei a me ferrar logo nos primeiros dias quando comecei a limpar a casa.

A endometriose causa aderências, mas o processo de cicatrização das cirurgias também. Então se a gente não faz o repouso devido, essas aderências serão bem piores.

Outro ponto foi que também não me alimentei adequadamente para quem tinha acabado de fazer uma cirurgia: os intervalos das minhas refeições eram longos para quem ainda estava tomando remédios.

Lembrando que a alimentação não cura a endometriose, mas em alguns casos há restrições alimentares no pós-operatório, por exemplo, para quem retirou parte do intestino. O importante é você seguir à risca o que foi recomendado pelo seu especialista.

Por isso, na minha segunda vídeo em 2012, eu fiz tudo diferente. Fiz questão de fazer o certo. De preservar meu corpo, minha cirurgia, de atender ao pedido do meu médico para que a minha cicatrização já começasse bem, pois sei que ela demora meses.

E foi justamente por isso que fiquei uns 6 meses longe da vassoura, do rodo e do balde. Lavar banheiro nem pensar. Não carreguei peso e fiz o mínimo de esforço possível. Poupei meu corpo de qualquer trabalho que exigisse qualquer esforço físico.

Tive uma alimentação balanceada, com pouca gordura e rica em fibras. Nos primeiros dias apenas caminhava, até porque é necessário para soltar o gás que colocam em nosso abdômen para melhor visualização na laparoscopia. Ia andar na pracinha do bairro.

O esforço maior foi quando tive de ir ao banco, pois sem querer bloqueei a senha do cartão ao tentar pagar uma conta pelo computador. Fui caminhando feito uma lesma, demorei quase uma hora num trajeto de 10, 15 minutos no máximo. 

Subir e descer escadas foram liberados pelo meu médico, mas optei por ficar só na caminhada mesmo. Evitei também movimentos bruscos e até mesmo ficar sentada em frente ao computador. Isso é muito importante, pois ao se sentar pressionamos o umbigo. Além da “quentura” em nossa barriga.

Mesmo com a recomendação médica sendo, em média, de 15 a 30 dias, fiz questão de evitar esforços maiores mesmo após esse prazo. E, antes de voltar aos exercícios físicos, primeiro pedi autorização do médico e contei com a ajuda de um educador físico.

Por conta das aderências meu umbigo ficou um pouco roxo logo após a minha primeira cirurgia, e o fato de eu ter excedido em tudo, fazer esforço físico, carregar peso e etc fez com que ele ficasse ainda mais roxo e um pouco dolorido.

Já na minha segunda, meu umbigo não ficou roxo e não doeu nada. Eu acordei da anestesia e nunca mais tive dor. Estou há 7 anos e 4 meses curada da endometriose. Não tenho mais nenhuma dor e vivo normalmente.

Depois que acabei minha recuperação laparoscópica não tenho restrição alimentar, não faço dietas, como o que eu quero moderadamente, mas também posso cometer excessos que não tenho problema nenhum.

Porém, eu sei que meu corpo é aquilo que ele absorve e pensando nisso, em setembro de 2015, quando minha filha iniciou a introdução alimentar eu comecei a ter uma alimentação mais saudável. Como vou dar exemplo? Sendo um.

Mas eu não sou neurótica, prezo mais pelo equilíbrio. Claro que seu eu comer um pote de sorvete vou ter diarreia e cólica intestinal, não porque eu já tive endometriose, mas porque qualquer pessoa que comer um pote de sorvete terá dor de barriga.

O que ficou foi uma sequela muscular e vez ou outra minhas fezes ainda saem picadas. Porém muitas vezes eu tenho sim a sensação de evacuação completa, o que eu não tinha antes de 2012. Aliás, este foi outro texto que escrevi no blogspot e está entre os mais lidos do blog e, em breve, vou reescrevê-lo para este blog.

Sobre o retorno à relação sexual é melhor verificar com seu médico, pois depende de cada cirurgia. Eu continuei fazendo a fisioterapia uroginecológica por mais alguns meses e também fiquei curada da dispareunia de profundidade.

Agora para quem fez a cirurgia aberta, a laparotomia, os cuidados têm de ser triplicados. Eu era adolescente quando fiz a minha de cisto de ovário, então, não tinha muitos compromissos e tinha uma pessoa especial que cuidou de mim e de tudo à minha volta.

Mas a recuperação é bem mais demorada. É preciso fazer de 30 a 40 dias de repouso e mais muitos meses sem muito esforço. É importante seguir as recomendações de seu médico. Não extrapole e não ache que você é uma mulher-maravilha e que pode fazer tudo.

É preciso respeitar você e seu corpo que acabaram de passar por um procedimento cirúrgico. Outro conselho precioso é ser feliz. A felicidade é um estado de espírito e com certeza é um ingrediente a mais que levará êxito em sua recuperação. Beijo carinhoso!! 

Nota do editor: meu grande mestre, doutor Ricardo, me falava que o tratamento cirúrgico da endometriose tem 4 etapas:

1 – Diagnóstico da doença e planejamento da cirurgia, após longa discussão de riscos e benefícios;

2 – A cirurgia em si;

3 – A recuperação pós-operatória;

4 – A observação das consequências da cirurgia.

Todas as fases são importantes, e não podemos pular nenhuma delas. É esta importância que a Caroline ilustra neste texto, a partir de suas experiências com várias cirurgias, não necessariamente só de endometriose.

Costumo explicar às minhas pacientes que o tempo de recuperação é como um investimento de longo prazo, onde, com paciência, observaremos grandes retornos no futuro.

Um grande abraço, Alysson!

Fonte imagem: Deposit Photos/ Caroline Salazar

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