Agosto Lilás: EndoMulheres, digam não ao sexo forçado!

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Por Caroline Salazar
Edição: Nathália Veras

O mês de agosto tem como mote o combate à violência contra a mulher e também a semana mundial do aleitamento materno (SMAM), o Agosto Lilás e o Dourado, respectivamente.

A Nathália, nossa querida colaboradora, sugeriu que eu escrevesse sobre o mês da amamentação, já que amamentei minha filha por 2 anos e meio. Esse era meu grande sonho da maternidade, e o realizei sem nenhum problema, mesmo tendo optado pelo parto cesárea.

Porém tento nos meus textos ajudar o máximo de endomulheres possíveis com as informações exclusivas que você só encontra no A Endometriose e Eu. Por isso para iniciar nosso mês coloquei em pauta o Agosto Lilás, pois este assunto está me preocupando muito.

Para quem não sabe um dos sintomas da endometriose é a dispareunia: dor durante a relação sexual. Infelizmente, há muitas mulheres que sofrem também com a dispareunia tardia, dor após o sexo.

Você tem noção que existem mulheres (e muitas!) que após uma única relação sexual passam dias morrendo de dor e que não conseguem nem andar?

Eu quero muito falar com os endocompanheiros, seja ele marido, namorado, ficante… não importa o rótulo da relação, eu quero falar com você que tem ao lado uma mulher guerreira que sofre com a endometriose e a dispareunia.

Eu fui a primeira endomulher a falar abertamente sobre a dor no sexo e seu tratamento. Eu sou mais um exemplo que há tratamento e cura não só para endometriose, mas para dispareunia também.

Aliás, foi esse sintoma que me fez perceber que tinha algo errado com meu corpo. Graças a Deus, na época, mesmo sem ter ainda o diagnóstico, tive um namorado muito abençoado e sábio, que sabia que havia algo errado comigo e que nunca me forçou ao sexo.

Sabe por quê? Porque qualquer sexo sem o consentimento de ambas as partes se configura abuso sexual.

É importante saber que esse abuso nem sempre é tão óbvio, não é preciso que o homem bata e/ou segure a mulher, não é precise que ela tente se desvencilhar fisicamente.

Basta que ela diga não, que demonstre de alguma forma que não quer a relação sexual e que haja alguma forma de constrangimento, que pode ser também psicológica. Eu sempre soube que isso acontece com algumas endomulheres.

Vivemos num país extremamente machista onde o sexo muitas vezes ainda é visto como sendo apenas para satisfazer o parceiro. Mas, o que me preocupou mesmo foi constatar que muitas endomulheres são abusadas sem saber que estão sendo.

Para escrever tudo isso, precisei resgatar a dor da dispareunia e deixa-la bem fresca na minha memória. Não consigo conter às lágrimas e desespero ao me imaginar no lugar daquelas que são obrigadas a transarem mesmo com dor.

A dor é tão grande que a sensação era como se a gente tivesse sendo estuprada. É muita dor, não tem como sentir prazer. Aliás, já as relatei muito no blog, do blosgspot: imagine uma ferida bem grande na sua pele em carne viva. Depois joga uma mistura de limão com sal?

Agora faça isso várias vezes, como a penetração. Você consegue imaginar um pouco a dor que a portadora de endometriose com dispareunia sente ao transar?

É uma dor horrorosa que ainda demora bastante para melhorar, pois o assoalho pélvico é acometido por tensões. Quando temos um torcicolo nós mal conseguimos mexer o pescoço por conta da tensão, não é mesmo?

Na dispareunia todo o músculo da vagina está tensionado, cheio de nódulos. Quando fiz fisioterapia uroginecológica a explicação era: é como se toda sua vagina tivesse cheia de grãos de arroz, que são os nódulos de tensão.

Agora eu pergunto: como ter prazer e sair plena e feliz de uma relação sexual com dor? Não tem como, é humanamente impossível para qualquer mulher que esteja passando por esse sintoma da endometriose. Mas o pior não é não ter prazer, é terminar o sexo ainda mais destroçada, com ainda mais dor.

Infelizmente, são essas narrativas que eu tenho visto nos grupos frequentemente. Certa vez fiquei embasbacada com tantos comentários de mulheres que são diariamente obrigadas a fazerem sexo mesmo com dor. Eu que passei por essa consequência sei que é impossível.

As respostas eram sempre as mesmas:

“Sou obrigada a transar mesmo com dor senão meu marido/namorado fica com raiva”, “meu marido/namorado diz que se eu não fizer sexo com ele, vai procurar na rua”,  “se eu não suportar a dor e fizer sexo, tenho medo do meu marido/ namorado me trocar por outra”, “antes transar com dor do que perder meu marido/ namorado”, “já desconfio que meu marido/namorado tem outra, se eu não transar vou perdê-lo”, “se eu não transar com ele, vai arrumar outra”.

Jesus, a barbárie é imensa e eu já imaginava que isso poderia acontecer, mas não em massa. Eu pensei que a ala masculina tivesse um pouco mais de empatia com as mulheres, com sua companheira de vida, mas infelizmente não é isso que acontece.

Por isso quero aproveitar o mês e enfrentamento à violência contra a mulher, conhecido como Agosto Lilás, para abordar esse tema tão delicado. Uma em cada 10 mulheres tem endometriose. E essa mulher pode ser sua mãe, sua irmã, sua prima, sua melhor amiga, sua filha.

Como você se sentiria, meu caro homem, se sua mãe, filha ou irmã fossem obrigadas a transarem com dor? Você aceitaria “de boa”? Então, porque faz o mesmo com sua companheira?

Infelizmente, a violência contra a endomulher não é só sexual, mas também psicológica e física, além de outros tipos.

O Agosto Lilás existe desde 2010 para levar informação e ajudar a mulher a sair deste círculo de violência e para sensibilizar a sociedade sobre a lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006, a responsável pelo mês de conscientização.

Esse tema mexeu tanto comigo, que em breve teremos novidade sobre a temática. Não posso falar nada agora, porque estou cheia de crtl C + crtl V, mas como fui a pioneira em falar abertamente sobre o assunto em 2010, me sinto no dever de ajudar essas endomulheres que vem sendo abusadas e muitas, infelizmente, nem sabem disso.

Se você perceber que alguma mulher, independente de ter endometriose ou não, está sendo abusada peça ajuda. O sexo precisa ser prazeroso, ser um ato feliz onde o homem e a mulher chegam ao prazer mutuamente. Beijo carinhoso! 

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