As disfunções osteomusculares – a dispareunia e seus tratamentos!

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Foi a dispareunia, o sintoma que me fez perceber que algo estava errado no meu corpo. Como todos os sintomas – cólica, inchaço abdominal, dor na lombar, cansaço – que sempre relatei ao ginecologista eram tidos equivocadamente como normais, quando comecei a sentir dor na relação sexual soube realmente senti que estava com algum problema.

A partir de meus relatos, o A Endometriose e Eu foi o pioneiro no Brasil a falar abertamente sobre a dor durante e após o sexo e seus tratamentos. Apesar de eu já estar com a dispareunia de profundidade, eu não tive a tardia, dor que persiste após o sexo.

Claro que na época não sabia que estava com endometriose e, também, não imaginava que a dispareunia era um sintoma comum de muitas mulheres, especialmente, das endomulheres.

Em 2010 quando idealizei o blog como meu diário não imaginava que tantos outros relatos sobre a dispareunia chegariam até mim. Na época tive compreensão do meu parceiro, mas infelizmente não é o que acontece com muitas endomulheres.

Por isso fiz questão de passar este texto escrito pela fisioterapeuta doutora Ana Paula Bispo publicado em outubro de 2014 no blogspot para esse blog.

Tenho certeza que muitas pessoas passarão a entender que a dor no sexo não é “frescura da mulher”, “falta de interesse ou tesão pelo parceiro” ou “porque a mulher tem outro”. Infelizmente essas são algumas das frases que muitas das endomulheres que sofrem com a dispareunia escutam de seus parceiros.

Não precisamos de julgamentos, rótulos e estigmas. A endomulheres precisam de compreensão, carinho e apoio. Se você não pode dar isso, então, por favor, fique quieto (a). Beijo carinhoso! Caroline Salazar

As disfunções osteomusculares – a dispareunia e seus tratamentos!

Por doutora Ana Paula Bispo
Edição: Caroline Salazar

O tempo entre o início dos sintomas e diagnóstico e tratamento da endometriose é de cerca de 7 a 12 anos.

Durante este período, a mulher permanece com a queixa dolorosa sem diagnóstico, o que pode ocasionar inúmeras alterações secundárias à doença como disfunções osteomusculares e emocionais.

Dentre estas alterações, destacam-se as do sistema osteomuscular que podem causar, agravar ou perpetuar os sintomas da dor.

Disfunções da musculatura perineal ou das articulações sacro-ilíacas e seus ligamentos também podem ser causa de dor, já que podem ter irradiação para a vagina e ou períneo.

Além dos sintomas clássicos da doença, as alterações musculoesqueléticas, devido à postura antálgica (nota da editora: postura adotada por uma pessoa para evitar e ou minimizar a dor) por tempo prolongado adotada pelas mulheres podem estar presentes.

Esses padrões de desequilíbrio muscular podem exercer força de alongamento constante sobre os músculos do assoalho pélvico (músculos da vagina), levando a flacidez (relaxamento) que pode exacerbar ou perpetuar a dispareunia, mesmo após o tratamento da doença de base.

Este fato se justifica já que a tentativa de ajuste do corpo para aliviar a dor, que leva às alterações no alinhamento da pelve, do quadril e dos membros inferiores, ocasiona danos fisiológicos e, consequentemente, alteração na função dos músculos do assoalho pélvico, interferindo na fisiologia da pelve.

Alterações nos músculos do assoalho pélvico podem ocasionar a dispareunia, que é a dor durante ou após a relação sexual.

A dispareunia pode ser subdividida em dois tipos: a dispareunia superficial, de entrada ou de introito, e a dispareunia profunda ou de profundidade, com diferentes etiologias.

Em mulheres com endometriose, principalmente, na endometriose profunda, não é infrequente encontrarmos a dispareunia de profundidade, que pode ser resultante da distensão e inflamação de tecidos pélvicos, como útero em retroversão fixa, pressão exercida em ovários, ligamentos úterossacros ou região retrocervical afetados pela doença.

A dor também pode acorrer após a relação sexual, denominada dispareunia tardia.

Em razão da dispareunia estas pacientes sentem uma diminuição importante da satisfação sexual e, em alguns casos, optam pela abstinência sexual.

Fisioterapeutas especializados podem utilizar diversas modalidades terapêuticas para tratar as pacientes com alterações posturais e alterações nos músculos do assoalho pélvico decorrentes da endometriose e da DPC (dor pélvica crônica).

O objetivo principal do tratamento é a melhora do padrão postural, normalização do tônus muscular, aumento da consciência e propriocepção da musculatura do assoalho pélvico, dessensibilização dos pontos dolorosos na vagina.

A liberação miofascial é um dos tratamentos utilizados para a melhora do padrão postural e da dor, pois promove a liberação das restrições das camadas profundas da fáscia, favorecendo estiramento de interligações fibrosas e trocas de viscosidade das camadas miofasciais de um músculo sobre outro.

Visando a normalização do tônus muscular e dessensibilização dos pontos dolorosos dos músculos do assoalho pélvico, a massagem perineal, que consiste na introdução de um dedo na vagina e, realização de  movimentos para trás e para e para frente, de um lado para o outro por cima dos músculos elevadores do ânus e obturadores internos, pode ser indicada.

Desta forma, será possível reduzir o quadro álgico dessas pacientes a fim de que elas possam desfrutar de uma melhor qualidade de vida e satisfação sexual.

Sobre a fisioterapeuta Ana Paula Bispo:

Ana Paula Bispo é fisioterapeuta, doutora em Urologia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e mestre em Ginecologia pela Unifesp, mesma instituição que fez especialização em Reabilitação do Assoalho Pélvico. Siga a fanpage da doutora Ana Paula Bispo.

Imagem: Deposit Photos/ Caroline Salazar

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