Campanha de Conscientização contra o Abuso da EndoMulher!

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Campanha de Conscientização contra o Abuso Psicológico e Sexual da EndoMulher!

Por Caroline Salazar
Edição: Nathália Veras

A endometriose é uma doença que influencia negativamente vários aspectos da vida de uma mulher. A dor é o sintoma predominante e atinge cerca de 80% das portadoras e ocorre por diversos fatores. É muito difícil conviver diariamente com a dor, principalmente, quando esta dor ainda é muito negligenciada pela sociedade.

Desde os primórdios da civilização, como mostra os registros nos Papiros de Kahun, da Era Egípcia, a dor no período menstrual é subestimada. É comum o entendimento de que é sempre exagero da mulher qualquer dor que a leva às urgências médicas e ou que a faz tomar remédios com base de morfina e mesmo assim não ter alívio.

Nestes momentos é comum a portadora de endometriose escutar de pessoas próximas frases como “deixa de ser mole”, “você está com preguiça”, “larga de ser fresca”, “como você é mole para dor”, dentre muitas outras.

Porém, o que estas pessoas não sabem é que proferir estas frases é cometer uma violência psicológica contra a endomulher. Quando falamos em violência contra a mulher, logo imaginamos a física, mas existem outros tipos.

A psicológica é uma delas e é vivenciada diariamente por muitas portadoras. Além da psicológica, a endomulher também sofre com a violência sexual. Muitas vezes isso acontece pelo fato de o companheiro desconhecer que a dor na relação sexual é um sintoma da doença.

A dispareunia é um sintoma comum nas portadoras de endometriose e predominante naquelas que têm a doença profunda infiltrativa, especialmente, quem tem na região atrás do útero, onde acontece a penetração. A dor ocorre porque o assoalho pélvico da endomulher está cheio de nódulos de tensão.

“A dispareunia afeta significativamente vários setores da vida da mulher, porem seu início procede na vida sexual onde a mulher passa a ter desde desconfortos a dores muito intensas durante as relações sexuais, gerando sentimento de insegurança, menos valia e muitas vezes vergonha e solidão”, fala a psicóloga Ana Rosa Detilio, especialista em saúde da mulher e em reprodução assistida pela Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).

Ela pode ser superficial, conhecida como dispareunia de entrada ou de introito, que provoca dor no início da penetração, e a de profundidade, que causa dor e muito desconforto durante a penetração. Algumas mulheres têm a dispareunia tardia, quando a dor persiste após o sexo.

Eu fui a primeira pessoa a descrever abertamente sobre estas dores no blog A Endometriose e Eu, ainda em 2010 quando o blog no blogspot era meu diário. Imagina jogar a mistura de sal com limão numa ferida em carne viva?

Alia-se a esta ardência constante a sensação de ter facas entrando dentro da vagina. É uma dor insuportável e que não melhora de uma hora para outra com remédio.

A endometriose é uma doença que provoca algumas disfunções no corpo da mulher e a sexual é uma delas. Além da dor na relação, o desejo sexual também é afetado tornando essas mulheres incapazes de começar, de manter e ou de terminar uma relação sexual. Com isso muitas passam a ter trauma e ou aversão ao sexo.

“É comum se manifestarem nestas mulheres a repulsa pelo ato sexual por receio de não cumpri-lo de forma adequada e ainda podendo desenvolver outros transtornos como depressão e distúrbios de ansiedade”, enfatiza Ana Rosa.

Segundo estudo publicado em 2014 no European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology foi constatado que a prevalência da disfunção sexual em mulheres com endometriose é de 61%, enquanto em mulheres com outros distúrbios ginecológicos é de 35%.

O estudo recrutou 182 pacientes com endometriose profunda infiltrativa e 182 sem a doença entre 2010 e 2012 e analisou todas as áreas da função sexual: satisfação e desejo sexual, orgasmo, dor e se tinha interferência de algum problema pélvico.

Entre as pacientes com endometriose profunda infiltrativa, 58% relataram que a dor pélvica afetou gravemente sua função sexual, enquanto apenas 1% das mulheres sem endometriose se queixaram deste problema. Quanto ao apetite sexual, 45% relataram falta de desejo contra 14% em relação às mulheres saudáveis.

Está mais que comprovado que a endometriose, especialmente, a profunda e infiltrativa afeta severamente a função sexual da endomulher. Se em pleno século 21, a dor da cólica ainda é incompreendida, imagina reclamar de dor durante o ato sexual.

Para quem sofre com a dispareunia, o sexo não é nem um pouco prazeroso, muito pelo contrário. Vivemos numa sociedade machista onde muitas mulheres são obrigadas a transarem com seus parceiros, independente de sentir prazer ou não. E isso precisa mudar.

Sei que algumas endomulheres têm o apoio e a compreensão de seu companheiro, porém, muitas ainda não têm e são vítimas frequentes deste tipo de violência doméstica. Eu sempre soube que isso acontecia, mas ultimamente tenho ficado perplexa ao constatar o quanto a violência sexual está frequente entre as portadoras.

Muitas endomulheres se submetem a este tipo de violência com medo de perder o parceiro ou como já recebi em muitas mensagens e li em muitos comentários, elas têm receio de eles “procurarem outra fora”.

Foi a partir destas mensagens que pensei em criar uma campanha para alertar os companheiros sobre a dispareunia e a importância do apoio, pois a dispareunia tem tratamento e cura. E o mês de novembro foi escolhido, pois dia 25 já é conhecido como o “Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher”.

A ideia da “Campanha de Conscientização contra o Abuso Psicológico e Sexual da EndoMulher” – (slides logo após o texto) – é mostrar que o problema existe, é um sintoma de uma doença séria, mas com a compreensão, carinho e tratamento adequado há solução.

O diálogo é extremamente necessário em qualquer relação, principalmente entre um casal. A mulher precisa falar o que sente e o parceiro precisa escutar e compreender.

“Não poder compartilhar ou não ser compreendida pelo parceiro gera sentimentos negativos tão intensos que atuarão diretamente na baixa da autoestima da mesma, sensações de que não é capaz de satisfazer as necessidades do companheiro, pois é assim que muitas vezes somos ensinadas”, afirma a psicóloga.

Ana Rosa sugere a participação do companheiro: “fazer com que ele participe das consultas, exames e etc aproxima os homens da verdade sobre a doença. Muitas mulheres se apropriam do tratamento sozinhas e não compartilham com o parceiro e isto pode se manifestar por vários motivos: falta de informação, vergonha, falta de tempo do marido e este distanciamento os mantém mal informados sobre a realidade da doença”, explica a psicóloga.

Para o parceiro, eu falo: procure conhecer mais sobre a doença e apoie sua companheira. Afinal, e se fosse com sua irmã, você aceitaria ela ser abusada por seu próprio companheiro? Pense nisso!

Para as mulheres, meu conselho é: converse, busque apoio e, mesmo se não conseguir, nunca seja obrigada a fazer algo que você não deseja. Você é a única dona do seu corpo e não deixe ninguém abusar dele. Beijo carinhoso!

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