David Redwine: Quem foi Sampson e qual é sua teoria para endometriose?

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Muito se fala na teoria da menstruação retrógrada, ou simplesmente, teoria de Sampson como a principal causa da endometriose. Mas você sabe quem foi Sampson? Você sabe o que diz essa teoria?

Ela já foi comprovada cientificamente? O que de fato afirma e prevê essa teoria sobre a doença?

Hoje iniciamos uma série com o doutor David Redwine mostrando tudo sobre Sampson e sua teoria da menstruação retrógrada, de 1927.

Neste primeiro texto, o cientista americano explica quem foi John Sampson, o que afirma e prevê sua teoria. Ele também discorre a teoria do ponto de vista da literatura e esclarece por que ainda não há provas ratificando-a.

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Por doutor David Redwine
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: doutor Alysson Zanatta

Quem foi Sampson e qual é sua teoria para endometriose?

Quem foi Sampson?

Um bacharel em ginecologia de Albany, Nova York.

Qual é a teoria de Sampson?

Trata-se da teoria de origem da endometriose mais aceita e popular, desenvolvida na década de 1920.

O que afirma essa teoria?

Todo mês, durante a menstruação, ao invés de todo o sangue menstrual sair pela vagina, alguma porção desse sangue segue o caminho inverso e acaba voltando pelas trompas.

Esse sangue menstrual carrega algumas células vivas do revestimento do útero. Essas células entram em contato com a superfície da pelve, onde se depositam, implantam-se e daí se transformam em endometriose.

Uma versão anterior da teoria postulava que a endometriose poderia ocorrer por implantação resultando da ruptura e derrame dos endometriomas do ovário (cistos conhecidos como “chocolates”).

O que prevê essa teoria?

A teoria de Sampson prevê que a endometriose irá progressivamente espalhar pela pelve com o passar do tempo, igual a semente de dente de leão (nota do tradutor: sabe aquela planta que as crianças adoram brincar de assoprar e que sai vários pedacinhos? O vento bate e espalha a semente de dente de leão, do mesmo jeito que as células endometriais se espalham na pelve soltando um monte em pedacinhos quando bate o vento).

Mais e mais superfícies na pelve serão afetadas pela doença, e a taxa de recorrência após remoção cirúrgica será de 100%.

Existe prova científica irrefutável apoiando essa teoria?

Não, e já deveria existir considerando o tempo que passou (quase 100 anos após sua descoberta em 1927). A literatura sobre a teoria de Sampson detalha uma variedade de provas circunstanciais que parecem suportar quase todos os pontos da teoria.

Foram encontrados traços de sangue no dialisado peritoneal (nota do editor: líquido drenado do abdômen) durante o fluxo menstrual em mulheres que realizavam diálise para doença renal (embora esse estudo não tenha buscado a presença de células endometriais). PS: (nota da editora: o presente texto foi escrito há alguns anos atrás).

Nas laparoscopias realizadas durante o período menstrual, foram observadas fluido com sangue saindo das trompas de Falópio (embora quando inserido um manipulador rígido no útero para manipulação, isso também pode causar algum sangramento cuja saída pode ocorrer forçadamente pelas trompas).

Células endometriais foram encontradas nas trompas, no fluido peritoneal e também no sangue menstrual. As células endometriais que foram encontradas no sangue menstrual são viáveis e podem ser cultivadas em laboratório (ainda que tenham crescido em tecido subcutâneo das próprias dadoras em apenas 11% dos casos).

Sampson demonstrou que se uma histerectomia fosse realizada durante o período menstrual, se o cirurgião cortasse a trompa de Falópio junto ao útero e apertasse-o com os dedos, poderia fazer com que o sangue saísse da ponta da trompa cortada.

A distribuição da endometriose na pelve tem sido apontada como uma das provas fortes que apoiam a teoria de Sampson. Foi debatido que os ovários eram a área pélvica geralmente mais afetada, já que estão mais perto do término das trompas de Falópio.

Por isso, a deposição e a fixação das células endometriais expelidas deveriam ocorrer primariamente nessa região (eventualmente, Sampson percebeu que os ovários não são a área mais afetada, e sim, a parte inferior da pelve).

Foi mais tarde postulado que o fundo da pelve é a área mais afetada devido aos efeitos da gravidade, que puxaria essas células endometriais viáveis para o Saco de Douglas (então, a teoria de Sampson pode sofrer mutações para se ajustar à informação disponível).

Foi sugerido que a endometriose se espalha progressivamente como se tratasse de um campo agrícola sendo semeado (observações em mulheres de idade mais avançada não demonstraram uma maior distribuição da doença no mapa pélvico).

Foi debatido que a existência de uma taxa de recorrência de 100% após a cirurgia se deve ao simples fato de que a pelve recebe novas células endometriais todo o mês (e, no entanto, as taxas de recorrência publicadas são bem menores que isso) e a elevada taxa de “recorrência” será simplesmente devida à persistência da doença que não foi destruída pela vaporização superficial a laser, ou eletrocoagulação, ou terapia medicamentosa.

Joseph Meigs, um renomado ginecologista de meados do século 20, escreveu em 1953 que a endometriose poderia ser curada através de cirurgia conservativa (isso mesmo, ele usou a palavra começada pela letra C).

Se você não olhar com muita atenção e de forma crítica para a teoria de Sampson e ignorar as palavras entre parênteses, ela parece bastante perfeita. Se pelo menos a realidade das portadoras coincidisse com a teoria, tudo seria perfeito.

Mas não é. A vida é imperfeita porque a teoria está errada e existem dados científicos inegáveis que mostram isso mesmo. Para entender a falha da teoria de Sampson, tudo que precisamos fazer é visualizar uma floresta de pinheiros.

Quando percorremos o terreno da floresta, o que está estalando por baixo dos nossos pés? É o som de pinhas embaixo dos nossos sapatos. Quando olhamos para o chão, verificamos que a gravidade mantém as pinhas no chão. Também poderemos observar novos rebentos e árvores jovens entre as que já atingiram a maturidade.

Agora vamos imaginar o assoalho pélvico. A teoria de Sampson prevê que células endometriais individuais devem grudar nas superfícies do assoalho pélvico em quantidades assinaláveis.

Essas células não são pequenas e devem ser facilmente observáveis através de um microscópio. Deveria ser facílimo descobrir essas células grudadas.

Poderíamos inclusive fazer biópsias aleatórias e esperar encontrar essas células com um microscópio. A essa altura os livros deveriam estar cheios de microfotografias de dezenas ou centenas dessas células grudadas.

Além disso, deveria existir abundância de provas da invasão progressiva dessas células grudadas na superfície pélvica, seguido da evolução dessas células para o estado de endometriose.

Esse trajeto da ligação inicial das células endometriais e a sua metamorfose para endometriose deveria ser informação fácil de encontrar e de provar através de registros fotográficos.

Essas provas visuais deveriam constituir a introdução de cada apresentação da teoria de Sampson em cada manual, e, no entanto, não estão lá porque essa abundância de provas não está disponível.

Nota do Revisor: De fato, a teoria da menstruação retrógrada proposta por Sampson ainda é a teoria mais aceita para explicar a origem da endometriose.

E desta derivam conceitos como que gestação e menopausa poderiam “curar” a endometriose, que o uso de medicações hormonais é capaz de reduzir a doença invasiva, e de que a mulher teria sua parcela de culpa em ter a doença pois ela teria adiado a gestação, quando não deveria.

Assim, vejo hoje que a teoria da menstruação retrógrada se tornou mais um fardo na vida da mulher, do que propriamente uma ajuda. Não é culpa do Sampson. É que a doença nos leva a pensar desta forma.

Entretanto, hoje poderíamos ter avançado pouco mais. Apesar de outras teorias serem discutidas, a menstruação retrógrada ainda é a mais aceita na comunidade acadêmica. Talvez pelo fato que seja mais “fácil” aceitar esta teoria.

A realidade se impõe. A comunicação entre as portadoras é virtuosa. Os conceitos mudarão, avanços chegarão, pela simples imposição da realidade.

Imagem destaque: montagem da imagem do texto original da Endopedia

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