Educação, união e atitude: a tríade que falta entre as portadoras de endometriose!

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Revendo os textos postados no blogpsot para passar para esse blog, me deparei com um texto muito especial escrito por Kátia Del Sent, mãe de uma portadora, publicado em maio de 2018, que, infelizmente, ainda continua muito atual.

Nele, ela fala sobre a importância de as mulheres se educarem sobre a endometriose, da união e da atitude das endomulheres e todas as pessoas que as cercam para mudar a realidade das mais de 10 milhões de brasileiras.

Kátia, que estuda biblioteconomia na UFRS, sempre apoiou a filha e a acompanhou em sua saga rumo ao diagnóstico, e nunca se conformou de escutar que “sentir dor no período menstrual é normal”. É sobre essa educação que ela diz no texto.

Além da educação, ela também toca num ponto importante: a união entre as endomulheres. Já pensou como seria se as mais de 10 milhões de brasileiras e pessoas próximas se unissem pela causa?

Quando as pessoas não se manifestam acabam consentindo com aquilo que tem. E eu lhe pergunto: “Você está satisfeita com que o Estado lhe oferece?”.

Por fim, ela encerra falando sobre o que realmente pode mudar a situação das endomulheres: a atitude. Sem atitude, sem ação, nada irá mudar. E ela cita a importância da EndoMarcha e da participação da sociedade na caminhada que já está colhendo frutos.

Compartilhe mais um texto exclusivo do blog A Endometriose e Eu e ajude-nos a levar uma nova conscientização da endometriose. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

Educação, união e atitude: a tríade que falta entre as portadoras de endometriose!!

Por Kátia Victória Del Sent
Edição: Caroline Salazar

Apesar de vivermos no século XXI, os índices de violência contra as mulheres ainda são muito elevados. Como mãe de uma endomulher, acho importante que possamos nos questionar sobre o cuidado dispensado quando diz respeito à educação das meninas.

É importante refletir sobre como educamos por meio de nosso exemplo, como mãe e mulher, para que nossas meninas respeitem a ética do seu corpo, não permitindo de forma alguma que, em nenhum momento de sua vida, ela seja agredida física ou emocionalmente.

Não basta a educação do não deixar fazer, mas sim a atitude que deve ser tomada diante de situações inoportunas. É preciso que as mulheres reconheçam não só a agressão como um ato doméstico masculino, mas também o descaso a pouca atenção que lhes é conferida nas diversas áreas nos diferentes momentos da vida.

E neste caso é importante refletir de como agimos ou reagimos diante das dores que acometem o corpo feminino como, por exemplo, a cólica menstrual.

Será que ainda aceitamos e repassamos para as nossas filhas o que diziam nossas avós? “É assim mesmo, é coisa de mulher!”, ou “Quando casar passa!”.

Diante dessa nossa postura, reforçando que é normal sentir cólica, torna-se comum ao buscarmos atendimento em saúde- seja público ou privado – por queixa de cólicas fortes, recebermos dos profissionais de saúde respostas semelhantes às de nossas avós, ou falarem que a dor é psicológica.

Este fato se dá pela falta de inclusão no currículo das universidades aos estudantes da área da saúde o estudo específico sobre a endometriose. Em especial, sobre o que de fato uma mulher com endometriose sente, passa, sofre.

Por isso que as portadoras de endometriose, quando acometidas pelo desconforto dos problemas causados pela doença, têm suas queixas relegadas, em primeiro lugar, na família por falta de conhecimento, e depois pelos profissionais que as atendem, por conta do despreparo e também por falta de conhecimento, tornando a vida destas jovens mulheres ainda mais sofrida, principalmente, aquelas que sofrem com as dores severas.

Por exemplo: se durante a consulta o profissional que trata a doença faz pouco caso das dores de sua paciente na frente de um membro da família, como essa pessoa vai acreditar que as dores são reais e incapacitantes?

Kátia, à esquerda, com apito e cartaz na EndoMarcha 2017 realizada em Porto Alegre, ao lado da filha, Giselle.

Ultimamente tem se falado tanto em sororidade, mas cadê a atitude de união que esta palavra significa?

Somente com a união de todos nós – seja portadoras da doença, familiares, amigos (as), conhecidos, profissionais de saúde – que as cerca de 10 milhões de brasileiras que sofrem com a doença deixarão de ser invisível à sociedade.

E a EndoMarcha foi idealizada justamente para dar voz as mais de 200 milhões de mulheres que sofrem com a doença no mundo todo.

Por que você não vai à EndoMarcha? Por que sua mãe, sua irmã, seus amigos, seus vizinhos não vão à EndoMarcha? Vergonha? Preguiça? Está em crise de dor?

De acordo com as nossas leis o atendimento da área de saúde deve ser humanizado, mas a realidade das endomulheres está longe da humanização.

O atendimento ainda é precário. Fazer exames específicos e cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é uma verdadeira via-sacra, e nas raras cidades que têm, a fila pode demorar anos e anos.

Por isso lutamos por políticas públicas efetivas e a EndoMarcha (clique aqui e faça seu cadastro gratuito) é o nosso caminho para isso. Nós, mães de portadoras, precisamos apoiar nossas filhas. Sair às ruas é uma maneira de se manifestar pacificamente e dentro da lei. 

Precisamos lutar para que se um dia tivermos netas, elas não sofram tanto quanto nossas filhas sofreram. Sei que há muita desunião das próprias portadoras, mas isso precisa mudar, e vejo o apoio da família um ponto crucial para que essa mudança aconteça.

Em 2014, quando minha filha soube da 1ª edição da EndoMarcha Time Brasil, ela entrou em contato com a Caroline e foi convidada para coordenar a EndoMarcha em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. E eu a apoiei. Na época ela tinha 18 anos.

Por dois anos ela esteve à frente da EndoMarcha na capital gaúcha, e mesmo após deixar a coordenação, nós (eu e ela) participamos ativamente das outras duas que Porto Alegre sediou.

E iremos participar de todas que pudermos. Sabe por quê? O nosso apoio é essencial.

Sempre ao lado da filha, Kátia, à direita, participa ativamente da EndoMarcha desde a 1ª edição em 2014, quando Giselle coordenou a caminhada em Porto Alegre.

É fundamental que a paciente tenha a segurança de que não está sozinha e pode sim contar com o apoio das pessoas mais próximas, em especial, das mulheres, como mães, irmãs e demais membros da família.

O apoio começa em observar nossas meninas, observar seu corpo. É superimportante ter um olhar mais sensível às queixas de cólicas fortes das mulheres, especialmente, das jovens por parte das mães e de familiares.

Jamais devemos ignorar a intensidade de sua dor e de seu sofrimento. Jamais devemos menosprezá-las (tanto a cólica quanto às mulheres).

Muito pelo contrário devemos sempre estar ao seu lado na busca de diagnósticos corretos e eficazes, bem como lutar por políticas públicas que lhes tragam benefícios assegurando-lhes tratamento gratuito, digno, humanizado e direitos de saúde, com qualidade de vida e também direitos à reprodução.

Afinal, a endometriose também é a principal responsável pela infertilidade feminina. Tudo isso fará diferença no tratamento de seu ente querido.

Mostrar que ‘não à violência’ também deve ser o caminho na busca para ter seus direitos respeitados enquanto menina ou mulher, no qual não basta reproduzir a queixa com acomodação, é preciso ter atitude de enfrentar a doença e suas adversidades com força e muita fé.

A união e a participação de todos fará a diferença. O envolvimento da família nos eventos de conscientização, tais como nas palestras e na EndoMarcha, é mais que uma demonstração de amor e carinho, é o alicerce que ela poderia estar esperando para dar um novo rumo à sua vida.

Pense nisso com carinho. Estamos perto de ter o Dia Nacional e a Semana Nacional de Conscientização e Enfrentamento à Endometriose (clique aqui e assista a aprovação do PL 6215/2013 no Plenário da Câmara Federal no dia 19 de fevereiro, que aguarda votação no Senado), mas precisamos fazer mais.

Vamos nos unir em prol das mais de 10 milhões de endomuheres brasileiras? Beijo carinhoso!

Imagem de destaque: Deposit Photos/ Caroline Salazar

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