Por Caroline Salazar
Edição: doutor Alysson Zanatta
Com o objetivo de desmistificar cada vez mais a endometriose, escreverei uma série de textos baseados em afirmações que comumente são faladas sobre a doença, mas que ainda não tiveram comprovação para a ciência.
O primeiro tema que vou tratar é a questão da endometriose ser difundida como uma doença autoimune. Antes de mais nada precisamos entender o que é autoimune.
Uma doença autoimune é quando o sistema imunológico (células de defesa) da pessoa doente ataca e destrói células do nosso saudáveis do nosso próprio corpo.
No caso da endometriose, células refluídas da menstruação não seriam “limpas” da cavidade pélvica e isso favoreceria a “implantação e invasão” destas células.
Porém, há duas razões primordiais pelas quais a ‘teoria’ não se sustenta:
– Não há nenhuma comprovação científica que células da menstruação possam invadir tecidos;
– Não há qualquer comprovação científica que nosso sistema autoimune ataque células próprias endometriais. Não existe imagens que provem que nossas células endometriais sejam atacados por nossas células de defesa (leucócitos).
Por outro lado, há vasta evidência na literatura médica que os leucócitos atacam vírus e bactérias, além de atacarem células de nosso tecido conjuntivo, como por exemplo, no caso do Lúpus.
Se de fato a endometriose fosse uma doença autoimune, certamente seria comum ver o que acontece com o Lúpus com as células endometriais. Porém, isso ainda não foi observado em nenhum caso.
Segundo o doutor David Redwine, o primeiro a defender a endometriose como uma doença que se origina ainda na fase embrionária, a ‘subteoria autoimune’ nada mais é que uma derivação da menstruação retrógrada, que nunca foi comprovada pela ciência. Leia o texto do doutor Redwine: A endometriose é uma doença autoimune?
Para ele, como a Teoria de Sampson, de 1927, ainda não foi provada, precisava de algo a mais para tentar se sustentar sozinha, daí colocaram a culpa na imunidade das mulheres.
A meu ver insistir que a endometriose é uma doença autoimune – sem ainda ser provada pela ciência -, reforça a culpa de a mulher ter a doença. Reforça que seu sistema imunológico não funciona como deveria, e a culpa cai em cima da mulher sem lhe dar a chance de se defender.
A medicina é uma ciência, e a definição de ciência é a seguinte: um conjunto de conhecimento adquirido baseado na comprovação científica.
Se a teoria da menstruação retrógrada e a da autoimune nunca conseguiram ser provadas pela ciência – em 2025 a Teoria de Sampson completará 100 anos -, como podem afirmar 100% que a doença vem da menstruação e que o sistema autoimune é o culpado?
É comprovado pela ciência que 90% das mulheres têm menstruação retrógrada, ou seja, em quase todas as mulheres que menstruam o sangue reflui pelas trompas e cai na cavidade abdominal.
Se a doença realmente fosse da menstruação e autoimune certamente ela atingiria muito mais que 10 a 15% delas. É só fazer uma conta rápida na cabeça. Ou estou errada?
E o que a ciência já provou sobre a endometriose?
– Já foi encontrada em fetos na mesma proporção que em mulheres adultas (10 a 15%);
– As glândulas e estromas do endométrio do útero não são as mesmas encontradas no endométrio do foco;
– Já foi encontrada em menina que nasceu sem útero;
– Há casos raros de endometriose em homens;
É chegado o momento de começarmos a falar sobre a real faceta da endometriose, pois a medicina está em constante evolução e não podemos fechar os olhos frente ao trabalho de cirurgiões excisistas do mundo todo que estão tendo excelentes resultados de cura após a remoção total dos focos.
Acesse a coluna “História das Leitoras” e conheça alguma dessas histórias. Vamos juntos desmistificar a endometriose para salvar as próximas gerações de portadoras.
E a mudança de pensamento é urgente, pois já podemos começar a salvar essa que está chegando. Elas não podem sofrer pela falta de informação. Pense nisso e vamos juntos espalhar uma nova conscientização da endometriose. Beijo carinhoso!