Você sabe se seu sangue menstrual é saudável?

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Por Caroline Salazar
Edição: doutor Alysson Zanatta

Durante os 7 anos do blog A Endometriose e Eu no blogspot – de abril de 2010 a agosto de 2017 -, escrevi entre textos autorais e colunas 784 artigos sobre endometriose, infertilidade e saúde da mulher.

Como no blog antigo tem artigos interessantes e muito importantes e temas que apenas quem vivenciou a doença sabe, vou reescrever alguns para deixar no nosso novo espaço.

O primeiro deles é o texto campeão de leitura do blogspot, o mais lido de todos – com mais de 60 mil acessos – e que atrai muitas adolescentes ao blog: seu sangue menstrual é saudável?

Escrevi esse texto no dia 19 de fevereiro de 2012 e a inspiração veio após contar a história da leitora Sabrina Petermann e ler o seguinte trecho:

“Dois meses após a cirurgia, menstruei e foi completamente diferente de todas as outras vezes. Vinha sangue bem vermelhinho, como se eu tivesse cortado a pele. Contei ao médico completamente feliz e sorridente. E ele me respondeu: ‘é assim que deve ser.’ Então, vocês devem querer saber como era o meu sangue antes: era escuro, quase preto e vinha em pedaços. Eu ficava menstruada de 8 a 10 dias, sendo que os três primeiros vinham uma borra preta até realmente começar a menstruar de verdade, com sangue coagulado”. 

Foi aí que um fato novo me chamou atenção: como deve ser a cor do sangue menstrual considerado saudável?

Após conversar com ginecologistas e pesquisar bastante vi que o sangue tido como sadio é o chamado sangue limpo ou sangue novo. Sua cor é vermelho-vivo, como se fosse um sangue novo mesmo e sem cheiro.

O sangue saudável também tem sua cor uniforme durante todo o ciclo. E não tem aquela coloração vermelho-escuro, meio marrom ou preto e com aspecto coagulado e de sangue pisado.

Segundo pesquisas, a alteração da cor está relacionada a algum problema em nosso corpo. Pode ser pela endometriose, mas pode ser alguma outra doença.

Entre os problemas mais comuns estão: ferida na vagina, no colo do útero, no útero, alguma DST (doenças sexualmente transmissíveis), como o HPV (Papiloma vírus, que causa o câncer de colo de útero), cisto de ovário e, claro, a endometriose, a adenomiose, dentre outras doenças.

Mas, de acordo com minha experiência pessoal, antes de ficar curada da endometriose, desde minha menarca, aos 13 anos, minha menstruação sempre foi de sangue coagulado e na cor vermelho-escuro, de sangue pisado.

Porém, nos 7 meses que antecederam minha gravidez, eu menstruei normalmente e pude constatar que meu sangue já estava sadio. Pela primeira vez na vida, aos 36 anos, eu estava menstruando um sangue diferente, como sempre deveria ter sido.

E foi assim também após meu parto e ainda é assim quando eu menstruo. Mesmo usando o DIU eu menstruo alguns meses do ano, e não vejo isso como escape, pois o ciclo tem uns 4, 5 dias e chega bem mansinho, mas avisa quando vai chegar.

E não é somente a cor do sangue menstrual que aponta anomalias em nosso organismo, mas sua forma também. O sangue coagulado, por exemplo, aquele que sai em forma de pelotas, mais grosso, em pedaços, também não é o ideal.

Na menstruação, já existe uma determinada quantidade de anticoagulante. Os coágulos (pelotas) sugerem que a mulher está expelindo uma quantidade de sangue superior ao anticoagulante. Ou seja, o fluxo está mais intenso do que deveria ser. Por isso, essa menstruação é considerada anormal.

Agora eu te pergunto: algum (a) ginecologista já te questionou como é sua menstruação? Nunca ninguém me perguntou, eu descobri em 2012 na história da Sabrina que contei no blog.

Entre as pesquisas que fiz para escrever sobre o tema em 2012 achei textos interessantes que falam sobre como o óvulo e o esperma devem ser sadios para a concepção no budismo tibetano.

Para o óvulo ser considerado saudável, ele deve ser livre de 3 defeitos:

– O primeiro deles é que o sangue considerado limpo não se agarra, é um sangue “solto”. Imagine se nosso absorvente fosse um pano: ele não se agarra ao pano e é fácil de lavar;

– O segundo é sua cor: deve ser vermelho-vivo, um vermelho bem intenso e não vermelho amarronzado, escuro e/ou preto;

– Além de vermelho-vivo, ele deve ser uniforme. Não pode ter coágulos e nem ter outra cor: do início ao fim, a menstruação deve apresentar a mesma tonalidade.

Eu, que não tenho ninguém próximo praticante desta religião, achei muito interessante a sinergia entre as informações.

Outra questão que você precisa averiguar é a duração do seu ciclo. O ciclo menstrual tem em média 28 dias, mas pode durar um pouco mais ou um pouco menos. O importante é que seja um padrão, ou seja, regular. Daí a importância de anotar.

O período menstrual normal, por sua vez, que está dentro desse ciclo e, representa a descamação do endométrio no caso, em regra, da ausência de gravidez, tem em média de 2 a 6 dias. Isto é, sua menstruação não deve durar de 8 a 10, como o de Sabrina e de muitas endomulheres.

Porém, o mais intrigante é que o sintoma de fluxo intenso é relacionado à adenomiose, e não à endometriose. Conheço endomulheres que usam absorventes noturnos durante todo o período menstrual e ainda outras que usam, ao mesmo tempo, absorvente interno e externo.

Eu me lembro de ter sangramento intenso quando comecei a menstruar. Eu era nova e magrinha e tinha de usar absorvente maior e mal conseguia andar. Eu tinha apenas 13 anos. Na época eu achava que era normal. Imagine algo sempre ter sido assim, não se conhece outra coisa, outra realidade, como saber que isso não é normal?

Por isso a sintonia entre ginecologista e paciente é essencial para manter o diálogo e as informações bem esclarecedoras.

Uma frase que falo desde esse texto em 2012 é: “mulheres prestem atenção no seu sangue menstrual. Sim, o nosso corpo fala. Portanto, sangue vermelho-escuro não é sadio e pode ser algum problema em seu organismo”. Beijo carinhoso!

Nota do editor:

Olá, caras leitoras. Como bem dito pela Caroline e pela Sabrina, é comum percebermos mudança no aspecto do sangue menstrual após remoção efetivas dos focos de endometriose.

Apesar de, por definição, as lesões de endometriose se localizarem “fora” do útero, o endométrio tópico das portadoras é diferente daquele das mulheres que não têm a doença. É como se houvesse uma “comunicação” entre a endometriose e o endométrio, através de moléculas ainda não identificadas.

Assim, havendo a endometriose, o sangue menstrual pode ser diferente, mais escuro e mais espesso, como relatado. E, curiosamente, após a remoção da endometriose, este sangue readquire seu aspecto habitual, ainda que durante a cirurgia não se faça qualquer manipulação direta sobre o útero

Um abraço, até a próxima! 

Fonte imagem: Deposit Photos/ Caroline Salazar

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