No último dia 1° de junho de 2017 completei cinco anos da minha segunda e última videolaparoscopia. Cinco anos que recuperei minha qualidade de vida. Cinco anos que não sinto mais nenhuma dor. Cinco anos que me libertei de uma dor que me aprisionava em minha cama, em minha casa. E esse é meu Depoimento Endometriose.
Cinco anos que me livrei daquela dor horrorosa que aliviava apenas com morfina e seus derivados. Cinco anos de uma nova vida, sem dor, sem focos ativos. Cinco anos que me sinto curada. Cinco anos de liberdade!
Se a cura é a ausência de sintomas e ou dos focos, então, posso dizer que até o momento estou com “as duas curas”. Pois é, se para muitas pessoas a endometriose ainda não tem cura, então, que milagre aconteceu?
Eu descobri em 2013 com duas pacientes do doutor David Redwine que felizmente a doença tem cura sim, se feita a cirurgia de remoção total dos focos. Infelizmente há diferença entre cauterizar os focos e removê-los em sua totalidade, ou seja, pela raiz.
Vou citar o exemplo que o doutor Alysson Zanatta me explicou: imagine se a endometriose fosse um iceberg no oceano. A cauterização retira apenas a parte de cima do iceberg, a superficial, e não ele todo, enquanto a remoção total vai retirar todo o iceberg do oceano.
Já pedi ao doutor Alysson Zanatta um texto bem explicativo sobre a diferença entre os dois tipos de cirurgia.
Sabe o que eu acho mais engraçado? O que eu mais ouvia dos médicos quando eu estava no auge das minhas dores é que nosso cérebro tem memória e que não esquece facilmente a dor. Bom cinco anos sem nenhuma dor, eu digo que meu cérebro esqueceu sim as terríveis dores.
É óbvio que eu não me esqueci das dores, tanto que continuo na luta pelo reconhecimento da doença como social e por políticas públicas efetivas às milhares de endomulheres, mas o meu cérebro não se lembra mais delas.
Daí eu pergunto: de onde os médicos tiram a afirmação de que nosso cérebro apenas somatiza as dores e não as esquecem?
Essa é outra reflexão que precisamos fazer. E assim como eu existem muitas endomulheres curadas, seja com ausência de focos ou dos sintomas, mundo afora. Sempre deixei claro no blog que o importante é a endomulher ser acompanhada por um especialista que realmente entenda sobre a doença.
Fazia muitos anos que não escrevia sobre mim e achei um momento oportuno para celebrar com vocês: meus cinco anos sem as dores da endometriose e sem focos. Ao mesmo tempo sei também que esse meu relato vai levar ainda mais fé e esperança a milhares de endomulheres que sofrem com as dores severas, assim como eu sofri.
Sofri 18 anos sem saber o que eu tinha e mais três já sabendo que eu era portadora de endometriose. No total foram 21 anos sofrendo com as dores de uma doença grave, considerada uma das 10 mais dolorosas do mundo, mas que ainda não é valorizada pela sociedade.
Pois é, meu querido cérebro, obrigada por mostrar que na prática é possível não ter memória das dores e começar a (re) viver uma vida plena e feliz. O que ficará marcado para sempre no meu cérebro: o dia 1° de junho de 2012, o dia do meu renascimento para minha nova vida sem dores!
Tive uma gestação plena e sem nenhuma dor. Por conta da amamentação (Babi mama até hoje com 2 anos e 3 meses, pasmem!) fiquei quase 2 anos e 9 meses sem menstruar. Em março deste ano tive o retorno da menstruação sem dor e tive apenas uma leve ardência nas pernas, o que não é nada para quem conviveu tanto tempo com as dores severas da doença.
Com isso tenho mais um motivo para continuar firme na luta por políticas públicas efetivas para as mais de 6 milhões de brasileiras que sofrem com a doença. Obrigada a todas (os) que sempre torceram por mim. Beijo carinhoso!
Por Caroline Salazar
Edição: doutor Alysson Zanatta
Texto publicado no blogspot em 6 de junho de 2017
Fonte imagem: Marcos Vieira/ A Endo e Eu
2 Comentários
No meu caso, infelizmente, os anos de dores ininterruptas criaram sim uma impressão no sistema nervoso central… Assim, mesmo sem focos de endometriose, continuo a sentir dor o tempo todo: desenvolvi fibromialgia. 🙁
Felizmente, tenho uma família (mãe e irmão) que me acolheu qdo precisei “voltar pra casa”, em 2011. E até hoje é somente graças à minha mãe que posso ter acesso aos melhores tratamentos e terapias.
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