Por Caroline Salazar
Edição: Nathalia Veras
No último dia 1º de junho comemorei 6 anos da cirurgia que mudou para sempre minha vida. Desde este dia, as dores severas que senti durante 21 anos – 18 sem diagnóstico -, quase que ininterruptos, cessaram e comecei um novo capítulo. Uma vida sem dores, uma vida normal.
Uma vida com liberdade onde posso ir e vir quando bem entender. No começo parecia um sonho. Mas hoje confesso que já me acostumei. A pouco mais de um mês de completar meus 40 anos, ainda contabilizo mais da metade da minha vida ardendo nas chamas do inferno.
Pode parecer exagerado para quem não conhece a endometriose, mas é a única forma que eu encontro de descrever a vida com as dores que ela causa. Você que neste exato momento está lendo este texto e passa pelo mesmo problema, onde nenhum analgésico e nem mesmo os derivados de morfina aliviam suas dores, saiba que há esperança.
A esperança existe e hoje não tenho receio de falar que estou curada da endometriose. Se a cura é a ausência de sintomas, sim eu estou curada. Só quem sente ou já sentiu muitas dores severas 24 horas por dia, 7 dias por semana, dores estas que nos aprisionam na cama, sabe o que estou falando e porque a minha celebração.
Esperei um ano para escrever o primeiro texto comemorativo no blog falando sobre a minha ausência de sintomas e possível cura. Depois só fui escrever sobre o assunto em 2017, quando completei 5 anos da minha cirurgia curativa.
Esperei, pois quis ter certeza que era possível viver sem dor, ter uma vida normal. Preferi ser cautelosa, afinal o que mais escutamos é que a endometriose não tem cura. Mas eu e muitas outras mulheres no Brasil e no mundo também estamos experimentando uma vida sem dores.
Sim, estamos curadas! E isso se deve graças à cirurgia de excisão com retirada total dos focos. Não existe mágica para os focos sumirem, por isso não há outro meio de erradicar a doença. Não tem remédio, chá ou terapias alternativas que extinguam o foco, embora esses tratamentos são importantes para aliviar e até mesmo minimizar os sintomas.
E quanto menos efeito colateral esse tratamento tiver, melhor. Quando eu vivia com dores diárias fiz durante um tempo acupuntura. No meu caso aliviava e muito as dores, principalmente as abdominais e lombares. Não sou radical e sei que em todo tratamento há aquelas que se adaptam e outras não.
Leia o maravilhoso texto “Tratando a endometriose cirurgicamente: o bom, o mau e o feio”, da neurocientista, Libby Hopton, sobre o tratamento cirúrgico da endometriose, onde ela fala claramente sobre a diferença das cirurgias de excisão, de cauterização e de vaporização. No texto ela fala qual o único meio de curar a doença.
Desde 2016 pratico Pilates, por ordem médica, duas vezes por semana e também funcional, de duas a três vezes. No meu caso a recomendação do Pilates é por conta dos meus músculos. Posso dizer que essa é minha sequela. Em abril minha lombar doeu pela primeira vez, mas nada que precisasse de remédio. Meu remédio foi andar, andar… Resolvi sair e esse foi o meu remédio.
Em relação às cólicas neste último ano ela deu às caras umas duas ou três vezes. Tão leve que não me lembro do número exato. Numa das vezes tomei um analgésico simples e foi o suficiente. Sem opioides. Aliás, não quero esses remédios nunca mais na minha vida. Só quem já viveu à base deles, e mesmo assim, urrava de dor sabe como é.
Por isso posso afirmar que vivo sem dores, sem aquela fadiga de já acordar cansada. Nossa, como era triste e ao mesmo tempo devastador dormir e não descansar! Ninguém entendia como era viver assim. Sem contar os mais de 20 quilos da Babi que carrego diariamente.
Mesmo dormindo pouco (insônia, minha outra herança da endometriose) e trabalhando bastante, consigo acordar bem e fazer meus afazeres do dia a dia, dos cuidados à minha filha e tudo que envolve minha rotina profissional e em casa. O cansaço bate quando preciso fazer alguma viagem a trabalho bate e volta. Aí sim meu corpo reclama um pouco.
Mas o que é isso para quem se entupia de remédios fortíssimos e mesmo assim não conseguia levantar da cama? Nada, não é mesmo? Por isso eu agradeço diariamente a oportunidade de até o momento estar bem e curada. Sei que a doença pode voltar em algum outro lugar, mas prefiro manter meu pensamento focado na cura.
E é essa esperança que quero passar para você que sofre com as dores severas da endometriose. Sempre falei no blog a importância de ser acompanhada por um especialista que realmente saiba como conduzir seu tratamento. A endometriose tem solução. E é isso que o médico tem de lhe passar. Talvez não para todas, mas para muitas sim.
Continuo anualmente indo ao consultório do doutor Hélio Sato para fazer a consulta regular que toda mulher precisa fazer. Como contracepção sigo com o DIU hormonal, ao qual me adaptei muitíssimo bem. Sem contar o baixíssimo nível de hormônio que é injetado no meu corpo, como mencionado no texto “Tudo sobre as opções de tratamento da endometriose parte 2“, do doutor Andrew Cook (leia também a parte 1 e a parte 3, e a fertilidade que é restaurada logo após a retirada.
Sei que minha história inspira muitas endomulheres a correrem atrás do tratamento correto. Obrigada pela confiança. Juntas somos mais fortes. Apenas não deixe de ter fé! Ela move montanhas e com certeza lhe ajudará a manter-se firme em busca de sua cura. Beijo carinhoso!
Foto: Marcos Vieira/ Caroline Salazar na EndoMarcha 2018
7 Comentários
Prezados Caroline e leitoras,
Gostaria de indicações de médicos em São Paulo. Tenho 24 anos e fui diagnosticada com endo profunda infiltrativa, com previsão de ressecção intestinal.
Estou bem assustada e preocupada com a cirurgia e o tratamento.
Muito obrigada!
Maria Clara, querida! Os especialistas que indico estão nos banners laterais. Só faço parceria com médicos que são acima de tudo humanos e atenciosos com as pacientes, mas todos são cirurgiões excisistas. Beijo carinhoso!!
Carol obrigada por sua história, seu blog por tudo! Gostaria de saber se você colocou o diu logo em seguida que operou ou se esperou um pouquinho? Obrigada
Patrícia, querida! Coloquei na cirurgia. Só o segundo, que coloquei 50 dias após meu parto. Beijo carinhoso!!
Então você não usa mais remédios para parar de menstruar? Porque um especialista que fui ele disse que mesmo após a cirurgia precisa continuar tomando o remédio…
Rosa, querida, como contraceptivo uso o dou medicamentoso. Nunca foi comprovado pela ciência que os focos surgem da menstruação, mas os médicos reproduzem aquilo que aprenderam na faculdade. A excisão, infelizmente, não é ensinada na faculdade. Há médicos que fazem a excisão e, se ele tiver certeza que retirou todos os focos e se a paciente não quiser tomar hormônio, ele deixa a paciente sem. Temos muitas histórias na coluna “História das Leitoras”, principalmente no blog do blogspot, que estão há algum tempo sem hormônio, menstruando normalmente e sem dor. Beijo carinhoso!!
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