Por Caroline Salazar
Edição: doutor Alysson Zanatta
Oito meses após retirar o útero para tratar endometriose, a atriz Lena Dunham se submeteu à nova laparoscopia em 16 de outubro. Desta vez, foi para a retirada de seu ovário esquerdo.
Antes de mais nada, não iremos tratar neste texto sobre a conduta médica adotada pela atriz. Até porque o pouco que sabemos foi o que ela escreveu em seu Instagram sobre a cirurgia.
“Tive uma cirurgia de duas horas para remover o meu ovário esquerdo, que estava envolto por tecido cicatricial e fibrose, ligado ao meu intestino e pressionando os nervos que dificultava a andar, a fazer xixi. Ao longo do último mês a dor ficou pior…”, postou.
Porém, como nosso trabalho é alertar às endomulheres sobre a preservação máxima dos órgãos, especialmente os reprodutores, e também porque falamos no blog da retirada do útero da atriz e criadora de “Girls”, em fevereiro de 2018, achei coerente redigir este texto por conta dos diversos mitos que permeiam a endometriose.
Um desses mitos vem mesmo sobre sua origem. Infelizmente ainda é comum escutar que “a endometriose vem do útero” ou “a doença é causada pelos ovários”.
Apesar de quase 100 anos da Teoria de Sampson datada em 1927, ainda não foi comprovado pela ciência que a endometriose surge da menstruação retrógrada. E, consequentemente, o útero seja o grande vilão e causador desta doença.
Nosso alerta é que não adianta retirar nenhum órgão se não retirar todos os focos pela raiz. Além da cirurgia de excisão a única que tem esse feito, e não a de cauterização, conhecer as diversas manifestações da doença, bem como saber reconhecê-las no corpo da mulher, são pontos cruciais para obter a cura.
E a mesma coisa em relação aos ovários: não adianta fazer a ooforectomia unilateral ou bilateral, quando retira um ou ambos os ovários, respectivamente, e deixar foco de endometriose no corpo da mulher.
Apesar de grande concentração do hormônio estrogênio nos ovários, não podemos culpar esse órgão pela doença. Afinal, os ovários e o útero são órgãos tão importantes que os chamo de “nobres”.
Sem falar da importância deste hormônio para a manutenção do pleno funcionamento do organismo feminino. É preciso ressaltar que retirar o útero não cura a endometriose em nenhuma hipótese, embora possa curar a adenomiose.
Por outro lado, embora saibamos que às vezes seja impossível manter os ovários em decorrência dos altos danos causados pela endometriose, retirá-los não é opção de tratamento ou cura.
Ao contrário, deve-se tentar preservar o máximo possível a saúde hormonal e também reprodutiva da mulher.
Pensemos assim: nem todas endomulheres conseguirão manter todos os órgãos em razão principalmente do diagnóstico tardio, porém não podemos tomar como normal que nenhuma consiga.
Não podemos esquecer que a retirada de órgãos desnecessariamente chama-se de mutilação. Para que não haja esse triste desfecho, pois a mutilação nunca mais poderá ser revertida, reafirmamos sempre a importância de estar nas mãos daquele que de fato sabe tratar a doença, principalmente, para quem precisa operar.
Uma dica preciosa que dou nas minhas palestras e nos meus vídeos é: conheça pacientes que o médico já operou e converse com elas a respeito de como foi à cirurgia, se houve melhora na dor/ qualidade de vida, se reverteu à fertilidade, se conseguiu preservar os órgãos e seu funcionamento…
A sala de espera do consultório é um ótimo momento para isso. Lembre-se: a sua saúde, bem como a manutenção de seus órgãos não têm preço! Beijo carinhoso!
Nota do editor: a endometriose é doença desafiadora, capaz de causar dores intensas e importante repercussão sobre a qualidade de vida da mulher.
Quando há dor importante, pensamos em cirurgia como maneira efetiva de tratamento, assim como o pensamos para outras doenças (apendicite, por exemplo).
Entretanto, no caso da endometriose, são comuns os casos de repetidas reintervenções cirúrgicas (por motivos diversos), e que, infelizmente, nem sempre levam à cura da dor.
Quando necessária, a cirurgia terá por objetivo a remoção (excisão) máxima das lesões de endometriose. A preservação dos órgãos reprodutores (útero, trompas e ovários) deverá ser a regra, não a exceção.
Situações de exceção são individualizadas e discutidas previamente às cirurgias. Especial atenção se dá aos ovários, fonte de produção de quase todo o hormônio feminino: os estrogênios.
Estes são os responsáveis pela proteção cardiovascular, manutenção de massa óssea, e bem-estar da mulher.
A menopausa é exemplo prático da repercussão da deficiência de estrogênio. Nesta fase da vida, a mulher pode ter alteração do humor, diminuição da libido, fogachos (“calorões”), secura de pele e mucosas, entre outros.
Em situação de exceção, pode ser necessária a retirada de algum ovário, pois há situações em que a doença compromete todo o órgão.
Em resumo, a endometriose é doença que pode colocar os ovários em risco, por acometimento direto da doença (endometrioma), ou pela manipulação cirúrgica.
A tomada de decisões no tratamento da doença (seja controle medicamentoso ou excisão cirúrgica) deve sempre levar em conta a situação dos ovários, e discutida exaustivamente entre médico e paciente.
Fonte imagem destacada: Favo News
Fonte imagem Lena: Instagram Lena Dunham