O diagnóstico da endometriose ainda é muito demorado. A média mundial é de sete a 12 anos. Eu mesma demorei 18 anos para descobrir o motivo real das minhas dores durante, antes e depois da menstruação.
Infelizmente, em muitos casos, as dores da endometriose ultrapassam o período menstrual. Por isso é fundamental que o especialista olhe para os sintomas da mulher além do período menstrual. Uma das missões do A Endometriose e Eu é justamente espalhar os sintomas da doença para que todos saibam como diagnosticar endometriose precocemente, diminuindo o sofrimento de muitas endomulheres.
Por isso, no primeiro texto da coluna no Mês Mundial de Conscientização da Endometriose, o doutor Alysson Zanatta responde a dúvidas de como fazer o diagnóstico correto da endometriose. Há muitas dúvidas sobre o assunto: desde qual é o exame correto a ser pedido até se há o período certo (antes ou depois da menstruação) para realizar os exames de imagens.
Outra dúvida de muitas portadoras é sobre a adenomiose nos exames complementares. Em qual exame a endometriose no músculo do útero é melhor identificada? É possível ter adenomiose e a doença não aparecer nos exames de imagens?
Compartilhe mais um texto exclusivo do A Endometriose e Eu e espalhe a correta conscientização, para que todos saibam como diagnosticar endometriose. Beijo carinhoso! Caroline Salazar
– Como é feito o diagnóstico da endometriose?
Doutor Alysson Zanatta: Como tudo em Medicina: anamnese (história clínica), exame físico, e exame complementar (por exemplo, um exame de sangue ou de imagem). Nessa ordem.
No caso específico da endometriose:
– anamnese: chamam a atenção para possibilidade de endometriose o histórico de cólicas menstruais fortes desde a adolescência, o sangramento menstrual excessivo, as dores durante a relação sexual, as dores evacuatórias e urinárias, e, também, uma eventual dificuldade para engravidar (mais de 1 ano de tentativas). Temos que perguntar diretamente sobre esses sintomas, pois muitas vezes as mulheres podem achar que são normais.
– exame físico: um toque vaginal realizado com cuidado e atenção, buscando-se palpar cuidadosamente o fundo da vagina e a região atrás do colo do útero, poderá ser capaz de identificar os nódulos e aderências de endometriose profunda em mais da metade dos casos
– exame complementar: para a endometriose, é necessária uma ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal e/ou uma ressonância magnética pélvica com contraste endovenoso e gel vaginal, desde que feitos por profissional capacitado. Nada mais.
– Tem um período correto (antes ou após a menstruação) para fazer a ressonância magnética de pelve que ajuda melhor no diagnóstico da endometriose? O que é preciso para se ter o diagnóstico mediante esse exame? Aline Staehler – Porto Alegre – RS
Doutor Alysson Zanatta: Olá Aline. Não há período específico do ciclo menstrual. O mais importante do exame, seja ressonância ou ultrassonografia com preparo intestinal, é QUEM está fazendo o exame, e não propriamente o tipo de exame ou período menstrual.
Quero dizer que o resultado do exame é EXTREMAMENTE dependente da experiência de quem o está realizando. Em não sendo um profissional treinado especificamente para a endometriose, ela passará facilmente despercebida, excetuando-se os endometriomas ovarianos que são mais facilmente visualizados, pois são líquidos.
– É possível ter adenomiose e não aparecer nada na ressonância magnética? Neste caso há aumento do útero? Qual a melhor maneira de diagnosticar a adenomiose? Amanda Bruno – Santos – São Paulo
Doutor Alysson Zanatta: Sim, é possivel haver adenomiose sem que seja identificada na ressonância, apesar disso ser cada vez mais incomum devido à melhoria do exame e dos profissionais.
Pode haver adenomiose sem que haja necessariamente aumento do útero, situação em que será menos provável a presença de cólicas, sangramento uterino anormal, e/ou infertilidade.
O melhor método diagnóstico para adenomiose é a ressonância magnética pélvica, apesar de também poder ser identificada por bons ultrassonografistas.
Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus interesses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta).