David Redwine: Endometriose intestinal – Cuidados pós-operatório e complicações – parte 4!

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Por doutor David Redwine 
Tradução: doutor Alysson Zanatta
Edição: Caroline Salazar

Após falar sobre a história e os sintomas (leia a parte 1), o diagnóstico (leia a parte 2), e o tratamento cirúrgico da endometriose intestinal (leia a parte 3), o doutor David Redwine explica os cuidados pós-operatório e suas complicações.

Nesta quarta e última parte desta série de textos sobre endometriose intestinal, o cientista americano aborda as várias possibilidades cirúrgicas para esse tipo de endometriose e o mais importante: alerta sobre os sintomas ser de complicações da cirurgia.

O doutor Alysson Zanatta reitera esse alerta na nota do tradutor logo abaixo o texto e fala da urgência do diagnóstico precoce. Neste momento, o entendimento e amparo do cirurgião são essenciais.

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Cuidados pós-operatório:

Não é necessária nenhuma mudança de cuidados em pacientes com ressecção intestinal tipo “shaving” profundo, e elas podem receber alta no dia da cirurgia caso tolerem líquidos e medicações por via oral sem vômitos, e se forem capazes de urinar espontaneamente com sinais vitais normais.

Em pacientes com uma ou duas ressecções discoides de espessura total, podem ser permitidos líquidos no mesmo dia logo após a cirurgia, e a paciente pode ser liberada na parte da tarde se estiver estável. Ela deverá receber uma dieta leve até iniciar a eliminação de flatos.

Após resseções intestinais segmentares, administra-se apenas cubos de gelo por via oral até que a paciente inicie eliminação de flatos. Sondagem nasogástrica não é necessária.

Os flatos começam geralmente no quarto dia. Começa-se então a administração de líquidos. Se a paciente tolerar, progride-se para uma dieta líquida completa e a paciente pode ser liberada.

Em casa, acrescenta-se carboidratos por um ou dois dias, seguida de carne, e então dieta conforme a aceitação. Essa dieta deve conter poucos resíduos para ser facilmente digerida no estômago e intestino delgado.

Os principais itens a serem evitados na dieta são aqueles ricos em fibra vegetal, como saladas e vegetais, ou alimentos ricos em proteínas, como carne e feijão.

O volume de ingesta hídrica no pós-operatório também é importante, pois água em grandes volumes pode sobrecarregar muito o intestino. A maior parte das pacientes estará com dieta regular em 10 dias após a cirurgia.

Complicações:

Caso haja náuseas ou vômitos significativos após a cirurgia, a paciente deverá receber apenas líquidos até que esteja melhor, assim como deverá evitar analgésicos narcóticos.

Esses analgésicos podem causar gastrite e estimularem o centro neural de vômitos causando problemas em algumas pacientes.

A paciente deverá informar o médico sobre condições incomuns como vômitos persistentes, piora da dor ou distensão abdominal, ou febre, para que eventuais complicações possam ser consideradas.

A desidratação causada pela redução da ingesta oral pode às vezes confundir o quadro, pois a paciente pode apresentar fraqueza e vômitos nessas circunstâncias.

Se a paciente ligar para informar problemas, podemos obter informações clínicas relevantes pedindo a algum familiar que encoste o ouvido sobre o abdômen da paciente e ouça o som de movimentos intestinais, e que meça a sua temperatura.

Informações sobre desidratação podem ser obtidas questionando-se o débito urinário nos últimos dois dias.

Se houver preocupação quanto à uma complicação importante, e paciente deverá ser levada ao hospital para que se realize exames de sangue, culturas se houver possibilidade de infecção, assim como testes de integridade dos tratos urinário e intestinal.

Para as ressecções de ceco, retossigmoide, e algumas ressecções de íleo, os enemas contrastados com água ou bário podem dar rápidas informações sobre extravasamentos intestinais.

Alguns radiologistas podem manifestar preocupação que, caso haja algum extravasamento, a paciente possa piorar com a realização do exame. Esta preocupação é infundada.

Tal extravasamento deve ser identificado, pois pode ser potencialmente fatal e se for identificado isso levaria a paciente para uma cirurgia imediata de qualquer maneira para correção do problema e limpeza do contraste extravasado.

Tomografia computadorizada com contraste oral ou endovenoso ou pielografias contrastadas podem ser úteis na identificação de problemas no trato urinário ou intestino delgado.

Radiografias abdominais simples podem identificar íleo paralítico com excesso de gás no intestino delgado e níveis hidroaéreos aumentados.

Ar livre sob o diafragma pode estar relacionado à cirurgia recente e também pode indicar um extravasamento intestinal.

Algumas pacientes podem estar tão graves que a realização de exames passa a não fazer sentido, e a cirurgia de urgência torna-se a melhor escolha.

Se a paciente for levada à cirurgia de urgência sem a realização de exames de imagem, o corante índigo carmin deverá ser injetado por via intravenosa durante a cirurgia já que algumas pacientes podem ter lesão concomitante do trato urinário.

A insuflação de ar no reto imerso em líquido pode ajudar a identificar pequenos extravasamentos no cólon. As grandes perfurações serão óbvias pela presença de líquido fecal de mau odor.

Eventualmente, não será encontrada uma perfuração intestinal, e o quadro clínico da paciente poderá ser devido à uma complicação urinária.

Um líquido turvo que pode ser encontrado durante a cirurgia pode ser confundido com um abscesso inicial, se o cirurgião estiver focado em uma perfuração intestinal mais preocupante.

Durante a cirurgia, o reparo das lesões intestinais e urinárias estará frequentemente sob os cuidados de um cirurgião geral ou urologista, e tais reparos estão além do objetivo desse artigo. Pequenas lesões intestinais que são tratadas precocemente podem necessitar apenas de suturas.

Nota do Tradutor: nesta parte do artigo sobre endometriose intestinal, o doutor Redwine destaca as várias possibilidades de cirurgias para endometriose intestinal, cuidados pós-operatórios, e a eventual necessidade de reoperação por complicações cirúrgicas, por vezes graves.

O extravasamento de conteúdo intestinal na cavidade abdominal é a complicação mais temida de uma cirurgia intestinal, porém também é a mais rara (em torno de 0,5%).

Quando ocorre, o diagnóstico precoce é fundamental. Sinais de alerta são febre acima de 38º C, dor abdominal refratária a analgésicos, e parada de eliminação de gases.

Este risco de complicação é discutido com a paciente no processo de tomada de decisão por uma cirurgia. Costumo dizer que, se não há dor ou infertilidade, um risco de 0,5% é inaceitável.

Por outro lado, diante de grave impacto à qualidade de vida da mulher, este risco é aceitável, pois, de maneira geral, a cirurgia é bastante segura. Forte abraço, Alysson.

Imagem de destaque: Deposit Photos/ Caroline Salazar

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