Por que devo consultar um cirurgião especialista em endometriose?

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A endometriose é uma doença de difícil compreensão, principalmente, quando se fala da cirurgia. Por ser pouco reprodutível, a cirurgia que possibilita a cura vai muito além apenas da técnica de excisão.  

E é justamente esse o mote do texto, retirado do site da clínica do doutor Andrew Cook, a Vital Health Endometriosis Center, que aborda a importância de escolher um cirurgião que não apenas executa a técnica, mas também que reconhece todas as possíveis manifestações da doença (leia-se cores e formas da doença).

O texto também explica a diferença entre as técnicas (cauterização x excisão), reitera a importância de fazer a cirurgia completa com um cirurgião-especialista e mostra resultados de uma pesquisa de 2005 do Reino Unido que comprova a diferença dos resultados efetivos, que leva à cura, à qualidade de vida tanto da cirurgia realizada por um cirurgião não-especializado e por um especialista.

Leia mais um artigo exclusivo do blog A Endometriose e Eu com atenção e veja como o pensamento do doutor Andrew Cook como de sua equipe estão alinhados com os do doutor David Redwine dentre outros excisistas mundo afora. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

Texto por: Vital Health
Tradução: Miriam Ávila
Edição: Caroline Salazar

Por que devo consultar um cirurgião de endometriose?

A cirurgia para endometriose não é uma subespecialidade em ginecologia e não há credenciamento formal de especialidade cirúrgica no tratamento da endometriose.

A endometriose é uma condição comum que a maioria dos ginecologistas/ obstetras trata, juntamente com toda uma gama de outras áreas ginecológicas.

Então, por que as pacientes com endometriose devem procurar um cirurgião especializado para sua cirurgia e o que exatamente é um especialista em cirurgia?

Embora a endometriose seja uma doença comum, afetando cerca de 176 milhões de mulheres em todo o mundo, não é uma doença simples de tratar cirurgicamente.

O que torna a endometriose tão exigente?

A doença tem muitas demonstrações visuais (Leia o texto: “A aparência visual da endometriose e o seu impacto sobre os nossos conceitos da doença”), algumas muito sútis e difíceis de identificar e, geralmente, ocorre em vários locais da pelve da mulher.

Em alguns casos, a visualização pode ser ainda mais prejudicada pela presença de aderências (tecido cicatricial que liga diferentes estruturas e órgãos), resultando numa anatomia pélvica distorcida.

A visualização ideal da pelve é obtida por laparoscopia, na qual pequenos instrumentos, incluindo uma câmera (laparoscópio), são inseridos por pequenas incisões no abdômen da paciente.

Embora a laparoscopia seja menos invasiva que a laparotomia (cirurgia aberta) e ofereça maior ampliação e iluminação da pelve, exige um alto nível de habilidade e experiência do cirurgião.

Para tratar a doença, especialmente em casos graves, é necessário que o cirurgião opere na bexiga ou nas proximidades, uréteres (os tubos que transportam a urina dos rins para a bexiga), trompas de falópio, ovários, intestinos, importantes vasos de sangue e, às vezes, até o diafragma.

Isso significa que o cirurgião precisa ter experiência e conforto ao trabalhar em todas essas áreas e ter a ajuda auxiliar necessária dispondo de uma equipe de cirurgiões gerais, colorretais, urinários e torácicos para remover completamente a doença de todas as áreas e minimizar as complicações.

A endometriose pode se infiltrar a alguma distância abaixo do peritônio (camada que reveste as estruturas pélvicas).

As técnicas cirúrgicas que queimam – (eletro) coagulação, diatermia e fulguração – a doença podem apenas tratar o tecido da superfície e não destruir a doença subjacente.

A cauterização também não é adequada para o tratamento da doença, principalmente, quando envolve estruturas vitais como os intestinos e ureteres. Esse tipo de cirugia é como derreter apenas a ponta do iceberg e deixar todo o resto dele para trás.

Se a doença não for totalmente erradicada, a paciente poderá sentir recorrência de seus sintomas logo após a cirurgia.

A remoção eficaz da doença pode ser obtida através da remoção cuidadosa (corte) das áreas afetadas, deixando apenas para trás tecidos saudáveis. Em casos excepcionais, a excisão pode não ser apropriada devido ao envolvimento de estruturas delicadas.

Nesses casos, o cirurgião pode usar a vaporização ablativa para vaporizar cuidadosamente o tecido doente, deixando as estruturas vitais intatas e sem danos. Essa técnica é conhecida como EVE (Excisão e vaporização da endometriose).

Em conclusão, a endometriose pode ser difícil de identificar e pode envolver múltiplos órgãos e estruturas vitais. Pode estar associada a aderências severas, fundindo órgãos, que precisam ser cuidadosamente separados sem causar danos.

A remoção eficaz da doença requer uma cirurgia meticulosa, recorrendo a várias especialidades cirúrgicas e envolvendo técnicas laparoscópicas avançadas que levam tempo e experiência consideráveis ​​para serem dominadas.

O que é um especialista cirúrgico em endometriose?

Os especialistas cirúrgicos em endometriose optaram por se concentrar principalmente no tratamento dessa doença complexa.

Eles tratam um grande volume de pacientes com endometriose e, portanto, estão familiarizados com todas as demonstrações e locais em que a doença pode ocorrer.

Eles passaram muitas horas refinando suas habilidades laparoscópicas avançadas, permitindo a remoção cuidadosa e completa da doença de qualquer local, além de minimizar as complicações.

Eles apreciam os resultados que podem ser alcançados quando a cirurgia é bem executada e levam o tempo necessário durante a cirurgia para alcançar esses resultados.

Muitos passaram por treinamento prévio e contínuo com especialistas da área, a fim de dominar as técnicas necessárias para oferecer a cirurgia ideal bem como treinamento e consultoria a outros especialistas em cirurgia.

A cirurgia de endometriose não é reconhecida como uma subespecialidade na ginecologia, mas muitos especialistas em cirurgia concordam que deve ser, pois representa algumas das cirurgias mais complexas e exigentes do corpo humano.

Não há credenciamento para esse tipo de cirurgia, e é por isso que é importante perguntar ao seu potencial cirurgião sobre suas taxas de sucesso cirúrgico.

Qual é a diferença entre a cirurgia oferecida por um não especialista ginecologista/ obstetra e um especialista em cirurgia?

Devido à falta de especialização, depende principalmente de técnicas para queimar a doença superficialmente, deixando a doença não tratada ou apenas parcialmente tratada.

Trabalha em um hospital com um baixo volume de pacientes com endometriose e experiência limitada em suas necessidades pós-operatórias específicas.

Trabalha em um hospital familiarizado com os cuidados pós-operatórios exclusivos de pacientes com endometriose.

Um não especialista:

Vê pacientes para uma ampla gama de condições. Baixo volume de pacientes com endometriose e, portanto, experiência limitada no reconhecimento e tratamento da endometriose.

Devido à amplitude da prática, reserva um tempo limitado para procedimentos cirúrgicos. Horas limitadas gastas realizando cirurgia.

Não concluiu nenhum treinamento adicional / avançado limitado em laparoscopia. Só recebeu treinamento cirúrgico básico na faculdade de medicina. Portanto, é mais confiante realizar laparotomia (cirurgia aberta) do que laparoscopia.

Maior risco de complicações se houver tentativa de cirurgia complexa.

Os cirurgiões auxiliares podem não estar disponíveis para ajudar na cirurgia do intestino, bexiga, uréteres e diafragma, levando a cirurgias incompletas.

Um especialista:

Concentra-se em atender pacientes com condições ginecológicas complexas. Alto volume de pacientes com endometriose e, portanto, uma vasta experiência no reconhecimento e tratamento da endometriose.

Devido à especialização, passa muitas horas realizando cirurgia a cada semana, oferecendo ampla experiência para refinar e manter o conjunto de habilidades.

Concluiu treinamento adicional em cirurgia laparoscópica para desenvolver habilidades avançadas. Está confortável em realizar a maioria dos procedimentos, se não todos, por laparoscopia (cirurgia pelo umbigo) em vez de laparotomia (cirurgia aberta).

Baixa taxa de complicações em cirurgia complexa.

Uma equipe multidisciplinar experiente está à disposição para ajudar quando necessário ou o cirurgião tem privilégios cirúrgicos para trabalhar de forma independente nos intestinos, trato urinário e diafragma.

Como essas diferenças se traduzem em resultados?

Pesquisas sobre a qualidade de vida em 7.025 pacientes submetidos à cirurgia de endometriose com ginecologistas/ obstertras não especializados revelaram que a cirurgia geralmente é ineficaz.

Apenas 8% das pacientes relataram alívio moderado a bom dos sintomas após a cirurgia e 22% relataram melhora leve, enquanto 70% relataram nenhum benefício ou até mesmo agravamento dos sintomas [1].

Dado que as terapias hormonais demonstraram uma eficácia um tanto superior na redução da dor, embora com efeitos colaterais significativos e não sejam adequadas no tratamento da infertilidade, muitos ginecologistas/ obstetras favorecem a terapia hormonal como a base do tratamento da endometriose.

Os especialistas em cirurgia, no entanto, relatam resultados consideravelmente melhores após a cirurgia. Nossas pacientes relatam uma melhora média de 75% após a cirurgia e 57% das pacientes relatam uma melhora de 90 a 100% [2].

Isso sugere que é necessária experiência cirúrgica para remover adequadamente a doença sem a recorrência dos sintomas. Muitas pacientes submetidas à cirurgia com seus ginecologistas/obstetras receberão cirurgia inadequada e seus sintomas persistirão ou se repetirão.

Isso não é uma c9rítica aos ginecologistas/obstetras não especializados, mas uma observação de que a endometriose requer habilidades cirúrgicas avançadas que simplesmente vão além do escopo da ginecologia geral.

Referências:

  1. Pesquisa sobre Dor e Qualidade de Vida, encomendada pelo Grupo Parlamentar de Endometriose do Reino Unido e apresentada no 9º Congresso Mundial de Endometriose, Maastricht, Holanda, 2005.
  2. Dados clínicos do Dr. Cook, 2004-2014.

Imagem: Deposit Photos/ Caroline Salazar

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