Encerramos o mês de conscientização da infertilidade com chave de ouro: uma história maravilhosa de superação da infertilidade por meio de uma gestação do coração. A baiana Naiara Farias conta todos os obstáculos que percorreu até a realização do sonho da maternidade.
Do diagnóstico tardio, após sofrer anos e anos com as dores da endometriose, aos fracassados tratamentos de reprodução assistida, e a descoberta de outras doenças, como um câncer no estômago, não a impediram de realizar seu desejo de ser mãe.
Mais um testemunho exclusivo A Endometriose e Eu que vai levar fé e esperança a muitas portadoras de endometriose que estão na expectativa de sere mães, especialmente aquelas que já deram entrada no Cadastro Nacional de Adoção. Beijo carinhoso! Caroline Salazar
“Meu nome é Naiara Farias, tenho 39 anos, sou enfermeira, casada com Flavio Farias, de 37 anos, supervisor de logística, natural de Feira de Santana, Bahia. Em 2002 fui diagnosticada com endometriose profunda e, como a maioria das endomulheres, passei por vários profissionais até ser diagnosticada com a doença.
De lá para cá, começou minha saga de tratamentos para controlar a doença, mas nesse meio tempo, o fantasma da infertilidade me rondava, pois sempre desejei ser MÃE. O início das minhas cólicas foi por volta dos 13/14 anos e o diagnóstico da doença só aconteceu aos 23.
Mas ao longo de todos esses anos de tratamentos medicamentosos e cirúrgicos, via esse meu desejo se esgotar do ponto de vista biológico, pois toda vez que iniciava o tratamento para fertilização in vitro aparecia alguma alteração nos exames que suscitava o adiamento do tratamento.
Em 2008 fiz a primeira inseminação artificial. E a minha primeira FIV foi em 2011, mas alguns percalços durante a continuação desses tratamentos, já que ambas deram negativas, me fizeram desistir do sonho de ser mãe biológica, mas nunca desistir do meu sonho de ser MÃE.
Por exemplo: surgiram nódulos na tireoide e por último uma esteatose hepática grau 3 (gordura no fígado em grau elevado, pois ao longo dos tratamentos ganhei uns quilinhos a mais (risos)). E foi essa última situação que me fez definitivamente não seguir com os tratamentos de fertilização in vitro.
Pois o médico hepatologista sugeriu adiar esse sonho, já que a indução medicamentosa naquele momento poderia piorar a situação e eu já tinha me submetido a duas inseminações artificiais, sem êxito. E também porque já tinha feito uso de muita medicação para indução da ovulação.
Diante disso, sai do consultório triste, porém agradecida a Deus, porque nada na nossa vida acontece sem o consentimento do Pai Maior.
Num certo dia, ao chegar à casa da minha sogra, meu marido e meu companheiro de todas as horas, grande incentivador e apoiador das minhas decisões, olhou para mim e disse: “Se você quer tanto ser mãe, e eu quero ter um filho com você, vamos adotar uma criança. Nós seremos PAIS sim. Veja como faz para nos habilitarmos para a adoção. Já chega! Eu quero a minha esposa comigo e você não vai mais continuar com esses tratamentos (a FIV)”. Isso foi em 2013.
Nesse momento fiquei atônita, extasiada, em choque, porque ele não se interessava por essa forma de ser Pai, mas o Nosso Senhor tocou o coração dele de tal forma, que fez com que ele abrisse o coração para essa possibilidade.
E não deu outra, naquela mesma noite fui verificar qual o procedimento para iniciar o processo de habilitação. Todos os nossos familiares e alguns amigos ficaram muitos felizes com a nossa decisão.
Minha mãe respirou aliviada, pois ela disse: “Filha eu não aguentava mais ver você naquela situação com tantos procedimentos invasivos. Eu tinha vontade de pedir para você parar com tudo isso, mas o seu desejo e sua persistência eram tanta que não queria lhe magoar, aceitava as suas escolhas com coração apertado. Estou feliz com a sua nova decisão, e essa criança já é muito amada por todos nós”.
Assim, a motivação foi maior para a concretização do nosso sonho. Meu marido disse logo: “Eu tenho uma escolha: será menina e o nome será Flávia (o feminino do nome dele (risos))”.
Claro que eu concordei e também acrescentei o nome MARIA no meio. Maria é o nome de minha mãe e também sou devota de Nossa Senhora de Fátima e de Nossa Senhora Aparecida.
Procuramos um advogado para fazer o peticão da habilitação, reunimos os documentos necessários e, por fim, demos entrada ao processo (na cidade que eu resido, é necessário constituir advogado para o pleito).
Logo começou a saga burocrática. Demos entrada no pleito em maio de 2013 e só conseguimos a habilitação em junho de 2014. Após toda a tramitação do processo, entre movimentação, junção de documentos que incluiu, inclusive, os relatórios de avaliação psicológica e da assistente social da comarca de onde eu resido, quando de fato entramos no Cadastro Nacional de Adoção.
A escrivã preencheu o cadastro e optamos pela lista nacional, regional e local para ampliarmos as nossas possibilidades. Além disso, informamos que queríamos uma criança do sexo feminino menor de 2 anos de idade.
De cara, a escrivã nos deu um banho de água gelada. Ela disse que teríamos dificuldade de encontrar crianças aptas à adoção nesse perfil. Nesse meio tempo, não faltaram palpites inconvenientes do tipo “você é corajosa”, “filhos adotivos podem se revoltar quando descobrirem que são adotados”, “você vai procurar sarna para se coçar”.
E outros poucos diziam “que maravilha” “fico feliz por vocês”. E foi justamente uma dessas pessoas positivas que me encorajou a preparar a chegada da nossa tão sonhada, tão desejada e tão amada filha.
Ela nos disse: “Querida, quando uma mulher está grávida ela prepara as coisinhas para a chegada do bebê e porque, nós, grávidas do coração, não fazemos o mesmo?”
Com isso iniciei o enxovalzinho da minha pequena, com coisas básicas e de uso imediato. Também mandei bordar alguns lençóis e fraldas com o nome e as inicias de Flávia (desde o dia que demos entrada no processo de habilitação para a adoção).
Minha mãe nos presenteou com um enxoval praticamente completo, (risos), ela mesma bordou as toalhas, diversas calcinhas com babadinhos de renda; minha prima Naia nos presenteou com o berço e a cadeirinha para o carro, que havia sido do seu filhinho. E outros familiares também deram à nossa filha outros presentes.
Enfim, estávamos nos preparando para a chegada da nossa filha. Só Deus sabia quando ela viria, pois com tantos trâmites burocráticos o fato de estarmos habilitados e cadastrados na lista do CNA, não garantia que o processo de adoção se concretizasse de fato.
Mas a nossa fé e nossa esperança nos acalentavam diariamente, porque sabíamos que Deus tinha um propósito e um belíssimo plano em nossas vidas.
E isso nos impulsionava e nos motivava a seguir adiante nesta jornada de amadurecimento e de longa espera de algo incerto aos olhos dos homens, mas certíssimo aos olhos de Deus.
E foi exatamente nessa jornada de espera, eis que um simples exame endoscópico me transformou. No dia 2 de outubro de 2015 descobri um CA (nota da editora: câncer) de estômago em fase inicial. Nossa eu desabei, pedi a Deus misericórdia e serenidade para atravessar o deserto.
Às vezes abria o meu guarda-roupa e olhava as sacolas do enxoval pensativa, chorava e clamava ao Senhor: “Meu Deus não deixe que eu parta desse mundo sem ter o gostinho da maternidade”. E Deus ouviu minhas preces.
Tenho feito acompanhamentos periódicos com o oncologista e, graças a Deus, estou excelente, eu creio que curada, em nome do Senhor, e o melhor com a minha princesa em meus braços.
Eis que no meio desse deserto, o plano de Deus se concretizou em minha vida. Em novembro de 2016 o meu telefone tocou. Estávamos sendo convocados para entrevista e conhecimento de uma criança que se enquadrava em nosso perfil.
Meu marido estava dormindo. Na hora eu o acordei em êxtase e aceitei de pronto. Guardamos segredo até o dia em que fomos informados que poderíamos buscar a nossa amada filha, uma semana após o telefonema. Até chegar o grande dia meu coração batia mais acelerado e a ansiedade tomava conta de nós.
Enfim, chegou o dia da entrevista. Chegamos cedo ao fórum e fomos entrevistados e orientados quanto aos trâmites burocráticos do processo. Fomos informados que outros casais também seriam entrevistados e passariam por avaliação para só então escolher a família que acolheria a criança.
Assim, após a entrevista, fomos autorizados a conhecer a criança. Nesse momento, perdi o chão. Estava muito nervosa e ansiosa e ainda não acreditava que a possibilidade da realização do nosso sonho estava próxima.
Meu marido ficou desorientado (risos). Ele não sabia se ia caminhando, de motoboy ou no próprio carro até ao abrigo em que a criança se encontrava. Tínhamos de correr porque era só uma hora de visita e o tempo estava passando.
Quando chegamos lá e vimos nossa menina, tudo se transformou. Ela foi logo para o colo do papai que se derreteu em lágrimas de tanta emoção e todos que estavam no local foram tomados pela emoção do nosso encontro (psicólogos, coordenadores da casa de apoio, assistente social, etc).
Foi algo inexplicável, transcendental. Quando os nossos olhos cruzaram com os olhos da nossa menina sentimos que ali havia iniciado o mais belo vínculo de amor incondicional em nossas vidas. Uma menina de olhar expressivo, encantadora, mas não parou por ai.
Como já era a hora de partir e aguardar a decisão da equipe sobre qual família acolheria aquela bela criança, saímos do abrigo com o coração dilacerado em ter que “deixá-la”, mas confiante de que aquela seria a NOSSA FILHA.
E ficamos aguardando. Passado dois dias, eis que recebemos uma das melhores notícias das nossas vidas. Do outro lado escutei: “Podem vir buscar a criança, vocês passaram nas avaliações e foi o casal que mais se identificou com ela”. Tivemos essa notícia no dia do aniversário da minha mãe.
Eu estava na cidade em que ela mora para comemorar seu aniversário, e o meu marido estava no trabalho em outra cidade. Não preciso dizer que a emoção tomou conta de todos. Já não tinha mais como esconder essa notícia, pois até então, não tínhamos contado para ninguém a respeito da entrevista e de já termos conhecido nossa filha.
Não queríamos causar expectativas e tumulto (risos). No dia seguinte, sábado (19/11) voltei correndo para Feira para terminar de organizar as coisinhas de Flávia. Desde o dia em que fomos convocados para a entrevista, eu já tinha iniciado a organização do ambiente onde seria o quartinho da nossa menina.
Até então, no cômodo funcionava nosso escritório. Organizamos o quartinho, modesto, mas bem aconchegante, arrumamos a malinha dela e fomos buscá- la no abrigo que ficava numa cidade distante da nossa.
Fomos eu, meu marido, minha mãe e minha sogra receber a mais nova integrante da FAMÍLIA. Assim, no dia 22 de novembro de 2016 de manhã recebemos em nossos braços a nossa linda menina tão amada e desejada por nós.
De lá fomos direto para a casa da minha mãe e fomos recebidos em festa pela família. Passamos a noite lá e no dia seguinte seguimos viagem rumo ao nosso lar. Ao chegarmos em casa fomos surpreendidos com mais uma festa.
Nossos familiares nos aguardavam ansiosamente com vários cartazes com mensagens carinhosas, bolo e tudo que uma celebração tem direito. Os dias foram passando e as visitas ficavam encantadas com nossa picuchinha.
Ela tem um olhar expressivo, riso fácil, é encantadora e muito independente apesar da idade (1 ano e 7 meses). A mamãe e o papai babando a cria e vibrando com as descobertas. Foi uma adaptação considerada tranquila, pois ela demonstrava um entrosamento familiar maravilhoso e que nos tem surpreendido a cada dia.
Recebemos a visita da psicóloga da vara da criança para verificar a condição e o ambiente em que ela estava inserida. E os relatórios eram favoráveis à continuidade do processo de adoção. Eram momentos tensos, pois não sabíamos de fato o que ia acontecer.
Mas ao mesmo tempo tentávamos ficar tranquilos, pois sabíamos que Flavinha estava bem adaptada ao nosso lar. Ela, inclusive, já nos reconhecia como pais e balbuciava “papá e mamã”. Além disso, encaminhávamos também vídeos e fotos à psicóloga e à assistente social do abrigo onde ela viveu por quase 9 meses.
E após todas as etapas conseguimos de fato adotá-la para a honra e a glória do Senhor, e a nossa menina passou a ser chamada Flávia Maria, como sempre desejamos e sonhamos. E nesses quase dois anos que estamos juntinhas, já vivenciamos inúmeras experiências, as quais têm fortalecido o nosso vínculo de mãe e filha.
Minha filha também é a responsável pelo meu amadurecimento enquanto pessoa. Afinal, tornei-me uma nova mulher após a maternidade. Não posso deixar de falar do papai babão que não mede esforços para ver a nossa menina bem e feliz.
Claro, tudo dentro das nossas possibilidades. Ele assume o seu papel de PAI de fato. Cuida, dá carinho, amor, passeia, brinca, faz o gagau, troca fraldas, dá banho. Nossos momentos de tensão são quando ela fica dodói. Flávia tem crises de renite e sinusite e, em algumas delas, paramos no pronto-atendimento pediátrico.
Outro momento tenso é quando há as famosas crises de birra inerentes à idade (nota da editora: o famoso terrible two, a crise dos dois anos), mas tudo superado com os afagos, abraços, muitos beijos e muito carinho.
E com o balbuciar da frase “te amo mamãe e te amo papai”, fico com os olhos marejados de alegria e agradecimento a Deus e a Nossa Senhora por nos permitir vivenciar essa árdua e recompensadora experiência de sermos pais.
Nossa filha ama passear, brincar de bonecas, de panelinhas e de massinhas. Ela adora comer bolo e cantar os parabéns! Acredito eu que seja porque desde que chegou em nossas vidas em toda comemoração, independente de qual seja, tem bolo e parabéns (risos).
Somos muito felizes por tê-la em nossas vidas, ela é incrível. Agora nossa família está completa. Após 11 anos de casados recebemos o melhor de todos os presentes, pois a quem Deus promete nada falta. E o que vivemos hoje sei que é o começo de uma longa história de amor.
Espero que minha história espalhe amor e esperança a milhares de endomulheres que, assim como eu, se descobriram inférteis e que não obtiveram sucesso com tratamentos de reprodução assistida. Sei que muitas têm o sonho de gerar um filho, de ver a barriga crescer semana a semana.
Mas antes de gestar um filho, temos de gerá-lo em nosso coração. E eu posso garantir que a adoção é um caminho maravilhoso de realizar o sonho da maternidade. Há muitas crianças em abrigos esperando por um lar. Talvez, seu filho já nasceu e você ainda não sabe. Beijo carinhoso, Naiara”.
Fotos: Arquivo pessoal/ Naiara Farias
1 comentário
Conheco Naiara a algum tempo e conheci Flavia, menina encantadora. É notorio o amor que transborda de Nao por esta pequena. Sejam felizes. E Deus continue a te abencoar.