Há alguns meses eu ansiava pelo testemunho da Ana Karenina Macedo, responsável pelo retorno da EndoMarcha na capital federal em 2017. A história desta brasiliense com certeza abrirá algumas mentes em relação à cura da endometriose, inclusive, da profunda.
E mais do que um relato de cura, sua história mostra que é possível deixar fluir o curso natural do nosso corpo e menstruar normalmente. Há quase dois anos, após sua primeira cirurgia de excisão, ela vive sem nenhum hormônio e tem sua menstruação mensalmente.
Em 2016 contamos a primeira parte de sua história logo após sua quarta cirurgia, mas na época ela optou por continuar com o DIU. Infelizmente antes desta cirurgia de excisão com remoção total dos focos feita por um especialista, ela já tinha realizado três cirurgias anteriores incompletas que a deixaram sem alguns órgãos, entre eles, alguns reprodutores.
Após tanto sofrer com os sintomas da endometriose e uma perda gestacional aos 9 meses (contamos na primeira parte de sua história), fico muito emocionada em saber que mesmo com apenas meio ovário e uma trompa, ela ainda tem chances de realizar seu sonho da maternidade.
Sou eternamente grata a Deus por ter tido uma participação importante em sua história, pois foi no A Endometriose e Eu que ela encontrou o responsável por sua cura e vida livre de hormônios.
Ana, querida, obrigada por retornar com a EndoMarcha numa cidade tão importante quanto Brasília e por comandá-la com maestria, por ter feito dela um evento já importante na capital federal.
Esta é mais uma história que o A Endometriose e Eu tem a honra de contar, pois sei que vai inspirar e levar fé e esperança de que a endometriose tem solução e que a menstruação não é a “monstra” que a maioria das endomulheres acha que é. Beijo carinhoso! Caroline Salazar
“Sou a Ana Karenina Macedo, tenho 35 anos, sou coach e palestrante, coordeno um projeto social, e moro em Brasília, no Distrito Federal. Escrevo esse texto hoje com uma enorme alegria e paz em meu coração. Há pouco mais de dois anos escrevi meu testemunho para o blog A Endometriose e Eu sobre meu calvário e minha luta contra a endometriose que há 9 anos me consumia, e minha vida tomou rumos inesperados desde então.
Primeiro, que logo que meu testemunho foi divulgado no blog e em suas redes sociais, muitas mulheres, conhecidas e desconhecidas, vieram a mim e relataram seu sofrimento. Faziam perguntas, tentavam esclarecer suas dúvidas, mas principalmente, buscavam amparo de alguém que entendia o que elas estavam passando.
Isso mexeu profundamente comigo. Eu tinha acabado de fazer minha segunda cirurgia e estava muito satisfeita com a minha recuperação. Após seis meses desta cirurgia com o doutor Alysson Zanatta refiz todos os exames e nenhum foco, nada.
E foi então que vi que a EndoMarcha não iria acontecer em Brasília por falta de alguém que a coordenasse. No meu mais íntimo eu sabia que aquilo não poderia acontecer. Eu precisava dar voz a tanta gente que me procurou, eu precisava me sentir ouvida também.
E, por isso, me voluntariei para ser a coordenadora de Brasília. E que jornada tão linda começava ali. Eu não tinha a menor ideia do que deveria fazer, com quem falar, ou aonde ir. Mas sabia a importância da causa e a necessidade de começar de alguma forma.
Ainda bem que quando entrei para o time de coordenadores, encontrei todo suporte, informações e direção que eu precisava. A EndoMarcha Time Brasil é um movimento muito bem coordenado, onde há não só explicações, mas suporte da capitã, Caroline, que nos ajuda e nos dá toda a direção de como fazer a caminhada acontecer.
Quando fiz minha segunda cirurgia em 2014, contei na primeira parte do meu relato no blog que coloquei o DIU hormonal. Porém, dois anos depois, comecei a perceber que fazia muito tempo que não tinha ânimo para nada, me sentia triste quase sempre, irritada, nervosa, sem vontade de sair da cama.
Minha família e amigos sofriam por isso também. Foi quando percebi que o DIU estava provocando um estado depressivo em mim. Isso gerou uma série de medos e dúvidas.
Tinha muito medo de que o DIU fosse o motivo de eu não ter nenhum foco. Tinha medo de voltar a menstruar porque sempre demonizavam a menstruação para quem tem endometriose. Tinha medo de “gastar” meus óvulos e não poder engravidar naturalmente quando esse momento chegasse.
Enfim, uma série de medos. Mas sabia que não podia continuar daquela forma. Então conversei com o meu especialista, o doutor Alysson Zanatta, e, mais uma vez, ele me explicou que nenhum medicamento cura a doença, que o DIU ou qualquer outro remédio só funciona para diminuir os sintomas da doença.
E que eu não precisava ter medo de menstruar porque esse era o funcionamento natural do meu corpo e não era a causa da minha endometriose. Diante disso, confiei e retirei o DIU em dezembro de 2016.
Quinze dias depois minha vida era outra. Eu estava feliz, animada, cheia de sonhos e muito trabalho com a EndoMarcha. Em março de 2017 realizamos a EndoMarcha em Brasília, com a presença de vários médicos e muitas portadoras. Foi um momento de muita alegria e realização para mim.
Realmente sentir que alguém se importa com a sua dor tem um valor imensurável. Conheci muita gente, muitas mulheres guerreiras, muitos médicos engajados na causa e que entendem nossas necessidades. Várias portas se abriram para falar de endometriose aqui na cidade.
Em agosto de 2017, conheci meu namorado, um homem incrível que soube ouvir e entender minha jornada de luta com a doença e a possibilidade de não poder engravidar. E me sentir aberta a alguém, tem muito a ver com o renascer que eu experimentei desde a minha segunda e última cirurgia.
E também tem muito a ver com a experiência de sentir minha dor e meus medos acolhidos.
Com meu namorado, eu finalmente entendi o valor que eu tenho e pude mergulhar nessa experiência maravilhosa que é ser amada, ser aceita e reconhecida.
Hoje escrevo esse testemunho, dois anos depois da minha última cirurgia, com duas EndoMarchas já realizadas aqui na Capital Federal, e com o coração repleto de amor.
Escrevo para dizer que atualmente, eu não tomo nenhuma medicação, nem anticoncepcional, não uso mais o DIU e não tenho nenhum foco ou sintoma de endometriose, nem mesmo cólicas menstruais.
Não posso negar que ainda vivo com aquele medo interno, aquele sistema de alerta com qualquer dor ou mudança em mim. Vivo no medo, que toda portadora sabe como é, de que qualquer dia eu descubra novo foco.
Mas hoje, nesse exato momento, digo com felicidade e tranquilidade que estou curada. Dois anos de uma vida nova com qualidade, sem nenhum hormônio e sem dor.
O que ficou para mim é que sem essa jornada de luta e sofrimento que passei, eu não conheceria as pessoas incríveis que encontrei no meu caminho. Não encontraria médicos excelentes e não me sentiria capaz de levantar uma bandeira como a da EndoMarcha.
Não saberia tudo o que sei, não me abriria tão completamente à adoção – a ponto de que mesmo que não consiga engravidar naturalmente, quero e vou adotar uma criança – e, principalmente, não saberia reconhecer o tanto que sou abençoada por Deus e como minha vida hoje tem sentido.
Gostaria de aproveitar esse momento para agradecer ao doutor Alysson Zanatta por ter sido tão humano e atencioso sempre. E por ter me mostrado uma nova visão sobre a endometriose. Com ele aprendi que a menstruação não é vilã, porém ela interfere nos sintomas.
Mas com a retirada de todos os focos por meio da cirurgia de excisão, eu poderia voltar a menstruar sem dor e sem medo. E isso realmente aconteceu comigo. É uma pena que ainda poucos médicos saibam realizar esse tipo de procedimento. Espero que meu testemunho possa, de alguma forma, ajudar a mudar essa realidade.
Queria, também, novamente agradecer à Caroline e ao blog A Endometriose e eu por ter encontrado o Dr. Alysson e por sempre ter me fornecido todas as informações necessárias para eu que pudesse lidar com a doença. E, principalmente, por todo suporte na coordenação da EndoMarcha.
Vivo agora na expectativa do futuro que tenho construído na vontade de ser uma melhor pessoa para o mundo e para aqueles que amo, e no desejo de realizar meu sonho da maternidade. Torçam por mim!
A endometriose foi, por muito tempo, uma pedra no caminho, um problema. Hoje, eu a vejo como o desafio que eu precisei para me fazer mais forte para uma nova vida.
Esse ano me despeço da coordenação da EndoMarcha em Brasília – passei a coordenação à Paula – para trilhar outros caminhos, mas não me despeço da luta.
Quero e vou continuar fazendo todo o possível para que mais mulheres possam ter atendimento digno, diagnóstico rápido e sua dor acolhida. Repito mais uma vez o que disse no meu primeiro depoimento: juntas somos mais!!
Fotos: Arquivo pessoal/ Ana Karenina Macedo