A história da leitora Priscilla Aitelli, sua endometriose profunda e sua gestação do coração!

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Desde novembro de 2014, quando lançamos no A Endometriose e Eu a coluna “Gestação do Coração” com nossa querida Ane Bulcão, passamos a incentivar a adoção. Apesar de a infertilidade atingir de 30 a 50% das endomulheres, ter endometriose não significa não conseguir ser mãe.

Porém, há diferença entre ser mãe e gerar um filho. Sei que muitas mulheres sonham em gerar, em sentir as mudanças do corpo, em ver a barriga crescer, em sentir desejos e até mesmo os temidos enjoos. 

Tais desejos devem ser respeitados, e por isso lutamos também por políticas públicas que permitam o tratamento da infertilidade, inclusive com reprodução assistida gratuita (até porque a infertilidade é uma doença reconhecida pela Organização Mundial de Saúde). Mas você já parou para pensar que antes de gerar em nosso ventre, um filho deve ser gerado em nosso coração?

E é justamente esta mensagem que vamos passar neste dia 25 de maio, dia Nacional da Adoção, com a história da carioca Priscilla Aitelli, de Joiville, Santa Catarina, que descobriu ser portadora de endometriose profunda após um ano e meio tentando engravidar, mesmo tendo alguns dos sintomas da doença logo nas primeiras menstruações.

Mais uma que sofreu a consequência do diagnóstico tardio e da infertilidade, mesmo relatando suas dores em sua consulta anual de rotina. Mesmo após fracassados tratamentos de reprodução assistida, a bióloga e o marido não desistiram do sonho de serem pais e adotaram dois irmãos: um menino de 11 anos e uma menina de 6 meses.

Uma história emocionante e que comprova a perfeição de Deus em todos os detalhes. Larissa é a cópia da mamãe quando pequena. Vocês mesmo irão se impressionar e comprovar nas fotos abaixo. Mais um testemunho que levará fé e esperança à muitas endomulheres que desejam ser mães. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

“Meu nome é Priscilla Aitelli, tenho 39 anos, moro em Joiville, Santa Catarina, casada com Silvio Faustino, 45, policial militar. Conheci o blog A Endometriose e Eu na busca por respostas do por que, por anos e anos, eu não conseguia engravidar, não conseguia realizar o meu grande sonho de SER MÃE.

Consequentemente virei amiga virtual da Caroline Salazar, ela me convidou para coordenar a EndoMarcha em Florianópolis, cidade onde morava. Ficamos ainda mais próximas, e mesmo hoje, após eu ter deixado a coordenação, ainda continuamos próximas e trocamos muitas figurinhas sobre endometriose e, também, claro, sobre maternidade.

E como me tornei mãe? O sonho da maternidade foi adiado por bastante tempo, pois sempre busquei várias “estabilidades”: a profissional, a financeira, a sentimental, antes de dar esse importante passo.

Porém, desde a minha adolescência as cólicas e as dores abdominais eram “normais” (para mim e para os médicos da época). Como eles nunca deram bola para essas minhas queixas já nem as relatavam mais nas consultas médicas.

Priscilla, a enteada, Tayná, e o marido, Silvio, no ensaio “Gestante do Coração”

Em 2008, aos 29 anos, no meu segundo casamento, não queria mais esperar para dar esse tão importante passo. Queríamos filhos biológicos e também adotar. Começamos a busca pela maternidade, nesse caminho me deparei com a endometriose.

A endometriose foi descoberta em 2009, depois de mais de 1 ano e meio tentando engravidar e sem sucesso. Rodamos por diversos médicos até obter o diagnóstico. Eu sempre tive cólicas fortes e fluxo menstrual muito intenso, mas até então, nenhum dos médicos que consultei suspeitou da doença.

Foi na videolaparoscopia que descobri ser portadora da doença profunda, grau III. Estava com endometriomas e endometriose acometendo minhas trompas e minha bexiga. Estava aí o porquê eu não engravidava naturalmente.

Fiz mais duas cirurgias para endometriose (2011 e 2015), quatro inseminações artificiais e uma FIV, mas também demos entrada com os papeis na Vara de Infância. Para nós era a última tentativa de ter filhos biológicos. Eu já estava esgotada emocionalmente, sem falar no lado financeiro, que começava a pesar também.

Engravidei duas vezes em 2010, mas tive aborto espontâneo. Em março de 2011 entregamos os papeis na Vara de Infância. Nossa habilitação saiu quase três anos depois. Eu tinha certeza que seria mãe, era um sentimento que não saía de mim, era algo inexplicável.

Claro, eu também passei pelo luto das perdas gestacionais, de não conseguir ter filhos biológicos, mas algo ficava na minha cabeça: “Você quer parir? Ou ser Mãe? Parir te impede de ser mãe?”.

Foi então que eu entrei de cabeça na minha “Gestação do Coração”, na espera dos meus filhos que não nasceriam de mim, mas para mim!

Mas não foram só flores. Há muitos momentos difíceis, de solidão, de incertezas, o que eu sei que também ocorre numa gestação biológica, mas a gestação do coração pode levar muito mais que nove meses.

O ensaio realizado em março de 2015 contou com toda a família

Burocracia, cursos, escolha de perfil, entraves do judiciário, dias, meses, anos de espera. Nesse meio tempo, compartilhamento de informações com pessoas no Brasil todo que estavam na mesma situação que eu, fiz muita amizade, ajudei muitos com um ombro amigo, e fui muitas vezes amparada.

Foram cinco anos de espera (de 2011 a 2016) até eu poder ver o rosto dos meus filhos por foto. Não, meu telefone não tocou, fui eu que corri atrás deles, na chamada Busca Ativa.

A Busca Ativa é uma busca, em diversos grupos, para crianças de difícil colocação familiar (geralmente crianças maiores, grupos de irmãos, crianças com necessidades especiais).

Me deparei com um grupo grande de irmãos que seriam divididos em três famílias da mesma região para manterem o contato, e as “Cegonhas” – pessoas ligadas a grupos de apoio a adoção, casas lares e varas da infância, que ajudam a encontrar famílias para as crianças de difícil colocação familiar – estavam procurando essas famílias.

Uma delas me falou: “Tenho 2 filhos para você: um menino de 11 anos e uma menina de 3 meses!” Isso aconteceu em dezembro de 2015, mas só conhecemos as crianças pessoalmente em março de 2016.

Priscilla e o filho, Kevin, de 14 anos

Meu coração acelerou e algo me dizia que tinha chegado a hora, que eu tinha entrado em trabalho de parto. Só consegui contato com meu marido no meio da tarde, para avisá-lo do acontecido. No começo da noite conseguimos ir até a “Cegonha” para ver as fotos e saber um pouco mais sobre as crianças.

Desde esse dia, até a ida à cidade onde estavam as crianças, foram 3 meses de espera. Nunca vou me esquecer da nossa chegada a Casa Lar. Um menino magrelo estava na porta, calça jeans, camisa xadrez e cabelo lambido para o lado. E era ele, o meu menino, que logo saiu correndo para brincar com os amigos.

Priscilla com a filha, Larissa, de 2 anos e 6 meses

Entramos para conversar com as técnicas responsáveis e saber do histórico das crianças. Confesso que é um papo um pouco tenso para os pais, mas muito importante para entender o que está por vir. Conhecemos a bebê e nosso menino: Larissa e Kevin, nossos filhos, o presente que esperávamos há anos.

No meio de muita informação dos “pseudos diagnósticos” do Kevin, TDAH, Dislexia, possível Autismo, recebemos uma notícia não muito agradável: não poderíamos levar os dois juntos, pois o processo da Larissa estava preso na justiça e ela ainda não estava destituída do poder familiar.

Quase desabei, mas me mantive forte e tentei fazer com que essa informação não abalasse os nossos dias de aproximação, aproveitando cada momento com os dois. Mas chegou o dia de voltar, e eu só poderia voltar com um, o outro teria que ficar.

A sensação que tive era a de ter parido gêmeos e um deles receber alta e o outro não.  Tive de deixar um “sob cuidados médicos” e teria que ir só com um para casa. Foi um dos piores dias da minha vida. Chorei horrores, ainda mais porque não teríamos condições de fazer visitas frequentes, pois a Casa Lar ficava a 600 quilômetros de casa.

Porém, eu tinha que confiar nos propósitos de Deus. Foram dias difíceis, meses difíceis, onde eu lutava na adaptação do Kevin e esperava a decisão da justiça para buscar a Larissa. Audiências para a definição do processo eram marcadas e desmarcadas, o tempo ia passando e eu acompanhando o crescimento da minha filha por vídeo em uma Casa Lar.

Eu tinha certeza que ela estava sendo bem cuidada por todos lá, mas não estava com a sua família, recebendo amor e dedicação exclusiva. Após 6 meses, em outubro de 2016, finalmente seu processo foi concluído e fomos buscá-la. Nossa família estava completa e assim começava mais uma etapa.

Hoje em dia vejo que esse tempo foi muito necessário para a adaptação do Kevin, para que ele se sentisse filho, se ver como filho mais velho, ter os cuidados exclusivos, pois exigiu de nós, pais, muito controle e também sessões de psicologia.

Até hoje, após quase 3 anos, ainda temos alguns resquícios de sua história passada, mas que não muda em nada o amor que sentimos por ele. Diferentemente das necessidades iniciais da Larissa, que por ser um bebê de 1 ano de idade, exigia muita disposição para brincadeiras e cuidados básicos.

Quase 3 anos se passaram e estamos descobrindo as novas fases de cada um. Kevin está entrando na adolescência e Larissa saindo da fase bebê e iniciando a fase criança. Cada um com as suas peculiaridades, alegrias e desafios que deixam qualquer mãe carinhosamente louca!!

Em 2010 criei o blog Mamy Antenada com perfis no Instagram @mamyantenada e no Facebook, que me ajudou muito quando estava em busca da maternidade biológica e adotiva, na busca de meus filhos, e também foi uma forma que encontrei de incentivar a adoção no Brasil. 

Atualmente, com a loucura diária de mãe de dois com idades e necessidades tão distintas, compartilho diariamente minha rotina de mãe no @mamyantenada, no Instagram. Tenho também alguns vídeos sobre adoção no meu canal do Youtube e alguns textos no meu blogwww.mamyantenada.com.

Priscilla bebê, à esquerda, e Larissa, à direita

Espero que minha história leve fé e esperança às endomulheres que, como eu, não conseguiram engravidar naturalmente e nem mesmo por tratamentos de reprodução assistida. Deus é realmente muito perfeito. A Larissa tem a mesma fisionomia que eu quando bebê.

Tenho certeza que tanto ela quanto Kevin foram feitos para mim, apenas não saiu da minha barriga. Há muitas crianças esperando um lar em vários abrigos no Brasil e tenho certeza que seu filho pode estar em um deles.

A semelhança física realmente impressiona. Priscilla à esquerda, e Larissa, à direita

Agradeço a Deus a oportunidade que Ele me deu em ser mãe. Até porque antes mesmo de ter o embrião em nossa barriga, a vontade de ter filhos tem de vir primeiro do coração. O mais importante é não desistir dos nossos sonhos. Beijo carinhoso, Priscilla Aitelli”.

Fotos: Divulgação / Priscilla Aitelli

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