Março Amarelo: Como começou o mês de conscientização no mundo?

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Por Caroline Salazar
Edição: Nathália Veras

Em 2019 abordei no nosso já tradicional texto do Março Amarelo, que escrevo desde 2011, como surgiu a ideia do Mês Mundial da Conscientização da Endometriose no Brasil.

Eu lia as postagens quando participava ativamente dos grupos americanos e traduzia intuitivamente alguns termos e o Yellow March foi um deles.

Mas, você sabe como surgiu o Yellow March?

Surgiu em 1993 com a ativista americana, Mary Lou Ballweg, na cidade de Milwaukee, no estado de Wisconsin, costa ocidental dos Estados Unidos.

Ela e mais 7 mulheres lançaram a Semana de Conscientização sobre a Endometriose durante uma mesa-redonda promovida pela The Endometriosis Association, da qual Mary foi fundadora em 1980 e ainda hoje é diretora-executiva.

De 8 pessoas logo viraram 22 e elas perceberam que uma semana seria muito pouco para divulgar a endometriose, uma doença até então completamente desconhecida.

Foi aí que Mary Lou teve a ideia de estender o trabalho de conscientização para todo o mês de março. E, assim, surgiu o Yellow March nos Estados Unidos para o mundo.

No Brasil, comecei a falar sobre o Março Amarelo em 2011, leia o texto aqui e, em 2013, fiz o primeiro evento no mês de março no país – I Brasil na Conscientização da Endometriose – no Vão Livre do MASP, na avenida Paulista, onde hoje é a concentração da EndoMarcha São Paulo.

Quando fui pesquisar sobre Mary Lou fiquei chocada de como nossas mentes têm afinidades sem nem eu saber quem ela era. A primeira vez que escutei falar dela foi em abril de 2014 quando conheci o doutor Alysson Zanatta num congresso sobre endometriose na capital paulista.

Logo de cara, o doutor Alysson comentou por alto sobre ela, disse que tudo que se relacionava sobre o mês de conscientização surgiu a partir dela e pediu para eu pesquisar sobre, mas confesso que esqueci e nunca pesquisei.

Mas por que março? Segundo conta a ativista em uma entrevista a Endometriosis Foundation of America foi por conta do clima mais ameno na maior parte do mundo: “Optei por uma época em que a maior parte do mundo não estivesse nas profundezas do inverno ou do verão rigoroso e Março é um bom mês entre essas duas grandes questões climáticas”, enfatizou à publicação.

Além de criar o movimento do mês de conscientização e escolher o mês, a ativista americana também está por trás da onipresença da simbólica fita amarela.

Mas, por que a fita e a cor amarelo?

Segundo a ativista, a cor amarelo surgiu em 1980 com a publicação do seu primeiro popular folheto amarelo: “Ele era amarelo e foi escrito em várias línguas e distribuído em várias partes do mundo. Por isso, a cor da endometriose ficou amarelo”, disse Mary Lou.

Na fita de conscientização, que na época ainda não era popular como hoje, ela disse que faltava algo a mais para sensibilizar ainda mais as pessoas: “Uma fita simples não dizia nada, tinha que dizer algo sobre endometriose para ter significado”, explicou.

“Então, colocamos a frase: ‘Pergunte-me sobre endometriose’ e sentimos que em elevadores, escritórios e na rua as pessoas perguntariam: ‘Oh, o que é isso?’. É uma ferramenta de sensibilização”, emendou a visionária americana.

Se ainda hoje a doença ainda é cercada de mitos e tabu, imagine 30, 40 anos atrás. Apesar de na época ainda não ter muitos dados da doença, Mary Lou começou a combater alguns mitos.

Entre eles, a questão de colocar a doença apenas como uma questão reprodutiva da mulher e o rótulo de que a mulher tem a doença porque adiou a gravidez para trabalhar – hoje conhecido como ‘Doença da Mulher Moderna’.

Mary Lou também foi responsável por lançar a primeira base de dados de mulheres com endometriose. “Mais de 8 mil histórias foram publicadas. Primeiro em parceria com a Faculdade de Medicina de Wisconsin e depois com o Instituto Nacional de Saúde (NIH). Após a publicação no NIH ninguém discutiu conosco”, afirmou.

Nesta época, ela também começou as campanhas de conscientização. Como na época não tinha redes sociais, o foco eram os anúncios nas tradicionais mídias, como revistas, jornais.

“Em 1987 lançamos o primeiro livro da associação e tivemos uma campanha multimilionária com anúncio de página inteira na revista Time”, disse Mary Lou, que apostou também em anúncios em publicações nacionais.

Ela também é autora de diversos livros e hoje preside a associação que fundou.

Após escrever isso tudo entendi o que o doutor Alysson estava querendo dizer em 2014. Realmente tudo que fazemos hoje sobre a conscientização da endometriose tem um dedo de Mary Lou. E eu estou chocada como podemos ter ideias tão parecidas se não conhecia sua história e muito menos seu legado.

Certamente, a partir de hoje, será mais uma inspiração para continuar ainda mais combatendo os mitos da endometriose – fiz uma série especial sobre eles no nosso canal do YouTube – e também em slides nas redes sociais, acesse @aendoeeu.

Precisamos urgentemente de uma nova conscientização da endometriose. Não podemos deixar que em pleno século 21 mulheres continuem sofrendo e diagnósticos sendo atrasados por conta de mitos e estigmas que nunca levaram a nenhum lugar que não seja mais sofrimento, sequelas e mutilações. E para isso conto com você.

Compartilhe esse e outros textos e vídeos do blog A Endometriose e Eu e nos ajude a difundir essa nova conscientização. Informe-se para que você também pode passar informações corretas quando lhe perguntarem.

E se engaje, por exemplo, participando da EndoMarcha na sua cidade. Leia as nossas reivindicações e, se for as mesmas das suas, clique aqui e faça sua inscrição gratuita

Mais um Março Amarelo está começando, mas se lembre que a conscientização da endometriose deve ser diária e não apenas em março. A união faz a força e juntos somos mais fortes. Beijo carinhoso!

Fonte texto: Endometriosis Foundation of America

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