Março Amarelo: dor no sexo, outro sintoma da endometriose!

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Continuando nossa série especial sobre o Março Amarelo, vou falar sobre a dispareunia. Você já escutou essa palavra antes? Eu nunca tinha escutado nada sobre o tema até acontecer comigo.

Como sempre escutei que a cólica menstrual era normal (leia o texto “Março Amarelo, um dos sintomas da endometriose”), foi a dor na relação sexual (dispareunia) que me fez perceber que algo estava errado com meu corpo.

Foi esse sintoma que me fez acordar para o meu corpo doente. Em 2010, quando iniciei o blog como meu diário, fui a primeira endomulher brasileira a falar abertamente sobre a dor durante e após o sexo.

A dispareunia acontece quando os músculos internos da vagina – conhecido como assoalho pélvico – estão tensionados. Sabe aquela tensão nos ombros que não te deixa dormir? Então, imagine essa tensão dentro de sua vagina.

A dor, aquela que te impede de realizar o ato sexual, não dá às caras logo no início. Talvez, por isso, demorei um pouco a perceber que eu estava doente e era sério.

Lembro-me que o desconforto e a ardência foram os primeiros sintomas. A ardência foi ficando cada vez mais forte. A sensação era como se fosse uma ferida em carne viva escaldada no limão com sal. E o que era para ser prazer tornou-se martírio.

Graças a Deus na época meu namorado entendeu, mesmo sem eu saber o que tinha, e nunca me obrigou a fazer nada forçado. Mas, infelizmente, não são todas as mulheres que têm essa sorte.

Além da dor, a perda de libido nos deixa sem nenhuma vontade de fazer sexo, em parte também pelos efeitos dos tratamentos hormonais.

Certo dia vi num grupo uma postagem de uma portadora perguntando como os parceiros lidam com esse sintoma as doença e, consequentemente, com a falta de sexo e a baixa libido.

Para minha surpresa constatei que diariamente muitas endomulheres são forçadas a fazer sexo – ou por seus companheiros ou porque elas têm medo de não transar e serem trocadas por outra. Isso me chocou de uma forma, que ainda mais porque estamos em pleno século 21.

Preciso dizer que qualquer sexo forçado, inclusive, no casamento configura abuso sexual. Isso mesmo, muitas endomulheres são abusadas diariamente. Muitas permitem isso sem ter a consciência sequer de que estão sofrendo violência.

Quando eu fazia meu tratamento em um ambulatório público escutei uma mulher falando que o marido dela transava com outra mulher na frente dela, dentro de sua própria casa, para lhe ensinar como era fazer sexo.

Nove anos depois de ter escutado essa triste história, ela ainda não saiu da minha cabeça e nem de meus ouvidos. E, o pior, é que 9 anos depois milhares de mulheres que estão doentes continuam sendo abusadas psicologicamente e sexualmente.

Por outro lado, homens preocupados com suas parceiras, podem se sentir culpados, achando que são os responsáveis pela dor. Há uma cobrança social muito grande que responsabiliza os homens pelo prazer e/ou orgasmo da mulher.

A dispareunia pode ser superficial, afetando a área da entrada da vagina e/ou da vulva. Nesse caso, dói muito quando começa a penetração e às vezes até o carinho com as mãos dói. Dá uma sensação de queimadura e/ou ardência.

Já a de profundidade – que foi a minha -, a dor persiste na penetração tornando o sexo extremamente doloroso e impossível de ser realizado.

Algumas mulheres também a sentem como pontadas cada vez que o pênis é introduzido e às vezes aparece apenas em algumas posições. Isso pode levar a mulher a ignorar a dor, achando que é a posição so sexo que é a causa, e não uma doença que precisa de tratamento.

Quando a dor continua após a relação, a dispareunia é chamada de tardia.

Fiquei quase 3 anos em tratamento, e posso dizer que também existe tratamento e cura para essa dor terrível. O meu tratamento não foi fácil. Como minha sessão era apenas uma vez por semana, muitas vezes não víamos evolução de uma semana para outra, pois toda a tensão voltava. Mas eu insisti e persisti, e valeu muito a pena.

Para quem está passando por isso meu conselho é: se você tem dor, não deixe ninguém te forçar a fazer sexo. Saiba que qualquer sexo forçado é chamado de ABUSO. Procure ajuda! A dispareunia é sintoma da endometriose que tem solução.

Lembre-se: quem ama não força nada. Quem ama respeita. Quem ama espera. Quem ama ajuda sua companheira a se reabilitar para que juntos possam continuar a ter um relacionamento saudável. Quem ama não abusa.

Não deixe ninguém te forçar ao sexo. Converse com seu médico, e procure ajuda de um fisioterapeuta especializado em uroginecologia. Cuide-se!Você não está sozinha. Beijo carinhoso!

Fonte imagem: Deposit Photos/ Caroline Salazar

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