Matthew Rosser: Endometriose em adolescentes? Sim, elas têm!

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Já falamos na coluna do doutor David Redwine sobre endometriose em adolescentes e a importância de dar mais atenção às queixas dessas meninas, independente da idade, para que o diagnóstico seja o mais precoce possível.

Hoje, a média mundial é de 7 a 12 anos e o mito que a doença atinge apenas “mulheres em idade reprodutiva, dos 15 aos 45 anos” colabora para esse atraso.

Segundo, o doutor Redwine, a endometriose é a maior causa de dor pélvica entre as meninas jovens.

Cerca de 70% das que têm cólica forte e não melhora com analgésico simples são potenciais portadoras, e, às que têm parente de 1º grau com a doença têm 7 vezes mais chances de ter.

Para comprovar que a endometriose não começa na idade reprodutiva, o cientista inglês Matthew Rosser mostra alguns estudos que comprovam que meninas mais jovens também podem ter endometriose.

E minha experiência pessoal comprova isso. Desde minha menarca, aos 13 anos passava muito mal antes e durante o período, mas obtive o diagnóstico apenas aos 31. Foram anos e anos de sofrimento, mesmo sempre relatando os sintomas na consulta anual ao ginecologista.

Não podemos deixar mais meninas perderem parte de suas vidas por conta da desinformação. Compartilhe este texto e ajude-nos a levar uma nova conscientização da endometriose. Beijo carinhoso! Caroline Salazar 

Por Matthew Rosser 
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar

Um dos muitos mitos acerca da endometriose é que a doença afeta apenas mulheres adultas na casa dos 30 anos. Essa crença tem sido mantida por muitos, muitos anos e ainda corre por aí.

Contudo, embora possa ser verdade que apesar de a maioria das portadoras ser diagnosticada entre os 20 e 30 anos de idade, os sintomas surgem muito antes e, ao serem ignorados, conduz ao atraso no diagnóstico fazendo com que a idade real em que a endometriose se apresenta não seja enxergada.

Felizmente hoje existe uma vontade de intensificar os estudos e a conscientização sobre a endometriose em  moças jovens. Hoje vou falar de um desses estudos de americana, que você pode conferir o original aqui. 

Este estudo contou com 25 casos de moças com idade inferior a 21 anos que fizeram laparoscopia por conta de dor pélvica e que não tinham diagnóstico prévio de endometriose, nem por laparoscopia ou por métodos radiológicos (ressonância magnética, ultrassom…).

Foi recolhida informação de todas as pacientes antes e depois da cirurgia para determinar o que as características da endometriose nessas pacientes poderiam nos indicar sobre a doença na adolescência (apesar de ser um grupo pequeno, é necessário começar em algum lugar).

A idade média das pacientes desse grupo era de 17,2 anos. O interessante é que 14 dessas 25 (56%) reportaram um histórico de endometriose na família. Esse dado é muito superior ao que seria de se esperar se fosse um grupo escolhido ao acaso a partir da população geral.

E isso prova que o risco de desenvolver endometriose em idade precoce aumenta significativamente pelo histórico de endometriose na família. E este é um fato que médicos e portadoras precisam ter consciência.

Os resultados desse estudo parecem sugerir que os casais com endometriose são bem capazes de identificarem os sintomas, já que 44% das pacientes do grupo vieram indicadas pelas suas mães. 

No que diz respeito aos sintomas experimentados pelas pacientes, os ginecológicos mais comuns eram aqueles tipicamente associados à endometriose, tais como dismenorreia (períodos menstruais excessivamente dolorosos) em 64% dos casos e sangramento anormal em 60% dos casos.

Esse é um assunto de extrema importância, já que esses sintomas poderão levar a ausências na escola todos os meses, potencialmente destruindo os projetos da jovem para a sua vida adulta. 

Apenas quatro das 25 pacientes reportaram sofrer de dispareunia (relações sexuais dolorosas), mas como apenas 8 das 25 assumiram ser sexualmente ativas, a dispareunia é um fraco indicador de endometriose nesse grupo.

Dos sintomas gastrointestinais, a náusea foi o mais comum, presente em quase metade das pacientes (44%). Entre 20 e 25% do total das pacientes experimentaram outros sintomas gastrointestinais, como prisão de ventre ou diarreia.

Fadiga, um sintoma da endometriose frequentemente ignorado, estava presente em cerca de 25% das pacientes, e parece ficar mais comum com a idade.

Foi reportada uma variação muito grande no intervalo que existiu na primeira visita ao médico e a obtenção do diagnóstico. Nesse grupo, em particular, a obtenção de diagnóstico foi entre 1 mês e 9 anos, sendo que a média entre o início dos sintomas e o diagnóstico foi de 2 anos.

Isso vem demonstrar quão importante é que os médicos estejam bem preparados para a identificação dos sinais de endometriose em jovens adolescentes e mulheres adultas.

Os autores desse estudo referiram um inquérito a mais de 4 mil mulheres diagnosticadas com endometriose. Dois terços dessas mulheres afirmaram que os seus sintomas eram muito menos valorizados quando eram adolescentes do que após virarem adultas.

Após as 25 pacientes terem feito a cirurgia, foi descoberto que 17 delas tinham endometriose grau I, 5 tinham grau II, 3 tinham grau III e nenhuma tinha grau IV.

Essas descobertas são coincidentes com um estudo recente com 55 jovens de idades inferiores a 19 anos e já previamente diagnosticadas com endometriose.

Não constituiu surpresa verificar que não existiam casos de endometriose grau IV, pois estudos anteriores revelaram uma taxa muito baixa de endometriomas em adolescentes.

Contudo, graus severos de endometriose em jovens moças não são inéditos, em particular após os 17 anos e, portanto, não devem ser descartados.

Uma das observações feitas pelos autores é que a aparência da endometriose em adolescentes pode ser diferente da existente em mulheres adultas.

Por exemplo, eles notaram que os tipos predominantes de lesões eram sutis, atípicas, translúcidas, brancas ou vermelhas, enquanto que nas portadoras adultas tendiam a ser mais escuras, um tom azul bem escuro, quase preto.

Esse é um fator importante que os cirurgiões devem levar em consideração, como sendo formas mais sutis da doença e que podem facilmente passar despercebidas.

Após um ano de acompanhamento das pacientes, 80% tinham melhorado ou eliminado a dor, mas esse foi um acompanhamento curto e como os tratamentos pós-operatórios foram diferentes, fica difícil dizer o que foi que influenciou a resolução dos sintomas.

Ainda assim, esse artigo levanta várias questões importantes em torno da endometriose em adolescentes.

Em particular, a forma como ela pode se apresentar com diferentes aspectos, tanto sintomática quanto fisicamente, relativo a portadoras adultas e como melhor caracterizar a endometriose na adolescência podendo conduzir a um diagnóstico mais rápido, melhores tratamentos e a um fardo menor causado pela doença nas portadoras e na sociedade. 

Fonte imagem: Deposit Photos/ Caroline Salazar
Texto publicado no blogspot dia 13 de outubro de 2015

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