Atenção, Ministério da Saúde: Endometriose tem cura, sim!

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Por Caroline Salazar
Edição: Nathália Veras

Em 2018 e 2019, no dia 08 de maio, em alusão ao Dia Nacional de Luta contra a Endometriose, o qual sequer existe (leia o texto da advogada Nathalia Veras sobre isso), o Ministério da Saúde postou uma série de mitos e verdades sobre a endometriose em suas redes sociais. 

Entre os slides está a pergunta que não quer calar: “A endometriose tem cura?”

Nos dois anos, o Ministério da Saúde afirmou que a doença é crônica e sem cura.  Aliás, a desinformação que é tanta que o Ministério da Saúde posta o dia Nacional de Luta contra a Endometriose num dia que nem existe!

Em 2018 fiquei quieta, deixei passar, mas neste ano quando me marcaram na postagem, levei uma prensa da Patrícia, publicitária especializada em campanhas de conscientização que atende o blog: “Você precisa escrever um texto sobre isso. Não pode deixar passar desta vez”.

E ela tem razão. Preciso explicar, mais uma vez, que a endometriose tem cura sim. Não podemos dizer que há cura para todas, mas também não podemos dizer que nenhuma ficará curada.

Falar que a endometriose não tem cura, significa, que 100% das portadoras não terá cura. Ou seja, que todas as mulheres nunca ficarão curadas. 

Slide postado nas redes sociais do Ministério da Saúde no dia 08 de maio de 2018…

 

… e o postado em 8 de maio de 2019: desinformação!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por outro lado, falar que nem todas ficarão curadas não torna a cura uma exceção, afinal, em nenhuma doença, nem mesmo numa gripe, a taxa de cura é de 100%.

Bom, graças a Deus, eu não sou a única curada da endometriose. Quem acessar a coluna “História das Leitoras” e ler os testemunhos das leitoras verá quantas também estão curadas.

Até no blog, do blogpsot, tem relatos de mulheres curadas da endometriose, inclusive, do exterior. Eu quero aproveitar este texto para fazer uma reflexão sobre a cura da endometriose.

Fui a pioneira no Brasil a falar abertamente sobre a diferença entre as cirurgias: excisão com remoção total dos focos, onde há a retirada de todo o foco – da ponta à raiz -, e a cauterização dos focos, onde há apenas a queima da superfície do foco, e não sua retirada total.

Distinguir a técnica utilizada é o ponto primordial para o cirurgião saber retirar a doença. Porém, além da técnica, há também a necessidade de saber reconhecer a doença pela aparência visual dos focos.

Afinal, como alguém vai retirar algo que não conhece e como alguém vai achar algo, se não sabe o que está procurando?

Segundo doutor David Redwine, em 35 anos como cirurgião excisista, a cor menos comum que ele encontrou foi a tal “pólvora”, aquele foco mais escuro, que a maioria dos cirurgiões vão atrás.

É muito comum, infelizmente, escutar das portadoras: “O médico me abriu e não achou nada”, “Fiz a cirurgia e o médico não encontrou nenhum foco”. Claro, eles podem estar apenas procurando o chamado “cor pólvora”. E é assim que se referem quando falam dos focos.

Para Redwine, a maioria dos cirurgiões tem persistência da endometriose (e não reincidência) pelo simples fato de não conhecer as diversas manifestações da doença e não saber reconhecê-las na mulher.

Em 2015 falamos sobre as diversas manifestações dos focos, ainda no blogspot, quando traduzimos o texto: A aparência visual da endometriose e seu impacto sobre os conceitos da doença.

Ou seja, além da técnica, é fundamental o cirurgião conhecer todas as manifestações da doença e saber enxerga-las na mulher.

Para uma doença que ainda é tida por muitos, inclusive, pelo Ministério da Saúde brasileiro que não tem cura, preciso dizer que só o doutor Redwine conseguiu curar 81% de suas pacientes.

Além dele há relatos no blog de outros cirurgiões excisistas, como os doutores Robert Albee Jr., Charles Koh e Andrew Cook que têm comprovadamente suas taxas de remissão de 15 a 20%. O doutor Cook ainda tem um índice menor: 15%.

Leia os textos dos doutores Robert Albee Jr., e Andrew Cook na coluna Endometriose – artigos internacionais. A entrevista exclusiva com o doutor Charles Koh está na coluna “Artigos Internacionais” no blogspot. E a com o Redwine e todos os seus textos estão nas coluna aqui no blog e no blogspot

A Carise Manga, que traduziu alguns textos para o blog, esteve em consulta com ele e o caso dela era cirúrgico, e, para ela, ele disse: “A reincidência de minhas cirurgias é de no máximo 15%”. Ou seja, ele cura 85% das pacientes que opera.

E eu só citei alguns porque tem muitos outros como os doutores John Dulemba, Ken Sinervo, Andreas Vidali, etc.

E, além de tudo isso, para se falar em cura, há outra questão, também primordial: para tentar curar a doença é preciso que o cirurgião acredite que ela existe.

A maioria dos cirurgiões excisistas são adeptos da teoria embrionária, que afirma a presença dos focos desde a formação do embrião. Ou seja, para divulgar que existe para endometriose, tanto para pacientes como, principalmente para médicos, precisamos também debater o enfrentamento à teoria da menstruação retrógrada.

Quando soube que a teoria de Sampson, de 1927, nunca foi provada pela ciência, não entendi porque isso é disseminado como se fosse uma verdade absoluta.  

Pouco tempo depois fiquei sabendo que histologicamente os tecidos – o endométrio do foco e do útero – não são os mesmos. As glândulas e estromas contidas neles são diferentes. Falamos sobre isso no trio da EndoMarcha em São Paulo.

Com isso passei a entender menos ainda porque sempre falam que o tecido é o mesmo e que a doença surge com o endométrio descamado da menstruação. Pior ainda é ver recorrentemente a endometriose sendo definida erroneamente como a presença de endométrio fora do útero.

Há 7 anos estudando a doença por outro ângulo, ponho-me à disposição de quem quer que seja, inclusive, do Ministério da Saúde, para mostrar esse outro lado da endometriose, que cada vez mais, está sendo disseminado no mundo por meio de ativistas e médicos.

Com tantos relatos de cura, inclusive, de quem está sem hormônio há anos, como a Ana Karenina, a Tatiana Mota Rodrigues, da Michele Oliveira, da Chiara Viscomi, entre tantas outras, comprova-se que se todos os focos forem corretamente retirados pela raiz, é possível ficar livre da doença.

Não se trata de milagre ou sorte, mas de aplicação correta da técnica da excisão! Por isso, no A Endometriose e Eu, todos os nossos parceiros são excisistas.

Ministério da Saúde leia os depoimentos da coluna “História das Leitoras”, os textos dos médicos mencionados do texto, e vamos começar a enxergar a endometriose por um novo ângulo.

Todos têm a ganhar. A mulher que com a cirurgia correta (quando for necessária) terá a chance de se curar e o sistema de saúde, seja público ou privado, que gastará menos em reoperações – economizará dinheiro e atenderá mais pacientes.

Vamos pensar sobre uma #NovaConscientizaçãoDaEndometriose?

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